quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sobre a inveja.

O pior de todos os sentimentos é a inveja. Não que a irresponsabilidade dos atos seja creditada a ela, mas a sua falta de controle conduz as pessoas para que façam coisas absurdas. Num ambiente corporativo, por exemplo, é notória a falta de competência profissional dos que nutrem esse sentimento. Quando não se consegue o reconhecimento por seus próprios méritos, somado a evidência do profissionalismo de um outrem, o resultado são ações desorientadas da inveja. A ascensão de alguém, aos olhos de quem alimenta este sentimento, é no mínimo frustrante. É o ódio a superioridade, corroendo como ferrugem. O subconsciente trata de gerar o conflito: a dor em saber que sua incompetência não vai lhe proporcionar o reconhecimento por ela (ou para ela?) merecido, o resultado é o que a psicologia chama de formação reativa, mecanismo de defesa dos mais “fracos” contra os mais “fortes”, gerando a disputa por poder e status. O tempo perdido nessa batalha egocêntrica poderia ser aproveitado de outras formas, como por exemplo, no foco em suas virtudes e não nas virtudes de um outro. É neste momento que lembramos daquele velho ditado: “Inveja mata” e mata mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A moça do caixa

Vai chegar no Brasil (e em outros nove países) um livro que já vendeu mais de 100 mil cópias na França e foi publicado pela primeira vez em junho do ano passado: “Les tribulations d’une cassière”, algo como “A atribulações de uma caixa”. São as histórias de Anna Sam, uma moça de 29 anos que passou oito anos trabalhando meio período como caixa de supermercado para pagar a faculdade (e sustentar-se, depois que se formou).

Todo dia ela presenciava atitudes grosseiras, situações em que se sentia humilhada, comentários indelicados de clientes, daqueles que a gente sente vergonha de ouvir – mesmo quando não é com a gente. Algo como o pai dizendo para o filho estudar, senão ia acabar trabalhando atrás do balcão.

Mas havia também histórias de encontros, de solidariedade e de gentileza. Então, em 2007, ela criou um blog anônimo pra contar suas histórias e seus tormentos: imagine repetir mais de 200 vezes por dia: “Você tem um cartão de fidelidade?” ou “Você pode retirar o seu cartão, por favor?” e, ainda “Obrigada, tenha um bom dia”!

Do blog, ela virou matéria de um jornal local, depois, apareceu em tvs e em rádios francesas, recebeu a proposta de transformar o blog em livro e pediu demissão. Suas histórias devem, ainda, ganhar adaptação para o teatro e o cinema.

Vamos aguardar.


Fonte: BBCBrasil
Foto de divulgação: Editora Stock/Marc Ollivier

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Subversão do dicionário" por Cristovam Buarque

Mais de uma vez o presidente Lula jantou em minha casa, antes de assumir a Presidência da República. Naquelas ocasiões, gostaria de ter lhe servido pizzas feitas por mim e que ele tivesse me chamado de um bom pizzaiolo. Usando a palavra como substantivo que se refere a quem faz pizza. Mas sou incompetente para a cozinha: não mereço ser chamado de pizzaiolo. Entretanto, não gostei de vê-lo chamando os senadores de pizzaiolos, usando essa palavra como se fosse um adjetivo para indicar político que acoberta malfeitos e engana o povo. Como político, não me senti atingido, porque nunca participei de qualquer CPI; portanto, nunca fiz “pizzas”, não sou “pizzaiolo”. Mas, como educador, senti obrigação de me manifestar diante da infeliz declaração do presidente.

O presidente corrompeu o dicionário, como no passado outros fizeram usando “barbeiro” como sinônimo de mau motorista, “açougueiro” como sinônimo de assassino feroz, “poeta” como sinônimo de lunático. Nenhum barbeiro reclama quando se usa seu substantivo de ofício como adjetivo pejorativo, nem os poetas, nem os açougueiros, porque eles não se sentem atingidos, sabem que a palavra tem significados diferentes.

Os pizzaiolos, entretanto, reclamaram, corretamente, porque foram surpreendidos com esse novo significado para adjetivar o senador pizzaiolo: aquele que acoberta corrupção. Se tivesse partido de outra pessoa, era possível que o significado adicional não prosperasse, mas vindo do presidente da República, o termo vai adquirir esse novo significado. Esta é a gravidade do uso da palavra pelo presidente: porque ele faz opinião.

Por essa razão, foi preciso que alguns senadores protestassem. Não por serem elogiados como fabricantes de pizzas, mas por serem desmoralizados como fabricantes de mentiras. Seria o mesmo que, aproveitando a crise moral do Senado e de muitos senadores, o presidente usasse a palavra senador como adjetivo de pizzaiolo sem competência para fazer boas pizzas ou aqueles que enganassem os clientes fazendo pizzas diferentes da descrição no cardápio.

Como educador e democrata, protestei porque, vindo do presidente da República, a crítica generalizada ao Senado corrompe a opinião pública, especialmente a juventude e as crianças, ao desmoralizar as instituições republicanas. Ao generalizar, ele passou da crítica aos senadores à crítica a uma das casas do Congresso. E a população, os jovens, as crianças passam a respeitar ainda menos o Senado, já desmoralizado pelo comportamento dos próprios senadores. A sociedade diminui seu compromisso com a democracia: o presidente deseducou o povo.

Para o bem ou para o mal, o presidente da República é o principal educador de um país. O que ele diz forma conceitos. Ainda mais quando o presidente tem carisma e popularidade. É uma pena que, ao seu lado, não haja quem o alerte para essa imensa responsabilidade que ele tem. Talvez porque, prisioneiros dos cargos e do respeito que, hoje em dia, beira o endeusamento, as pessoas ao seu redor se acovardam ou perdem o sentido republicano. Criou-se a ideia de que criticar o presidente Lula é um suicídio político. Os intelectuais se calaram, os sindicatos se acomodaram, os políticos se enquadraram.

Por isso é preciso alguém chamar-lhe atenção, mesmo que isso signifique o suicídio político de quem toma a iniciativa. Afinal, se antes se morria lutando pela democracia, muito mais se justifica a derrota política em defesa da República e da educação dos jovens e das crianças.

Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília (UnB) e senador pelo PDT/DF.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Medicina de Balcão

Há poucos dias, minha genitora passou por sérios problemas de saúde. E só foi parar num hospital, porque estava nas ultimas sem aguentar a dor numa das pernas. Diagnosticaram uma trombose na veia femoral. Foi internada as pressas, uma correria danada. Alguns dias depois, veio uma notícia que me fez ficar preocupado: a trombose havia gerado uma complicação maior, uma embolia pulmonar. Nesses casos, após conversa com o médico, o que se espera é o pior, afinal minha genitora poderia ir a óbito a qualquer momento em decorrência às complicações que a embolia poderia gerar. Após dez dias de tratamento, recebeu alta. Pulou uma fogueira de costas. Essa hora deve estar de repouso, lá em casa. Mas todo efeito, tem uma causa. Tomava remédios hormonais e de pressão, sem acompanhamento médico. Parei para imaginar quantos milhares de pessoas se automedicam como se tivessem gabarito para fazê-lo. Por certo são médicos que passaram anos estudando para auto-consultar. Pior: alguns fazem de balconistas de farmácia seus médicos particulares. Imagino as milhares de pessoas, que tomam medicamentos sem prescrição alguma, até para simples dores. Ora, uma “simples dor de cabeça” é sinal que há algo errado em seu corpo. Recomenda-se procurar um médico, mas, normalmente o que se faz é algo bem diferente. Procura-se um balconista e toma-se um remédio prescrito por ele, que talvez, não seria o recomendado para resolver o problema. Isso é preocupante, não acha? Dizem que a ANVISA esta instituindo novas regras de funcionamento para as farmácias. Mas, a maioria (se não todas) das farmácias está mais preocupada em vender, do que com o bem estar de seus clientes. Sejamos francos: cliente saudável, não é cliente rentável. Então, evitemos essa Medicina de Balcão e sejamos mais responsáveis com o nosso corpo: em caso de problemas na saúde, que procuremos um médico. Afinal, quando o seu automóvel quebra e precisa de um mecânico, por certo você não procura um cozinheiro. Ou procura?

sábado, 27 de junho de 2009

Wagner Moura vem ao Recife este fim de semana como Hamlet

Uma das peças mais encenadas na história do teatro chega ao Recife neste fim de semana. Hamlet, escrita por William Shakespeare no final do século XVII, será apresentada nestes sábado (27) e domingo (28), no Teatro da UFPE. Com Wagner Moura no papel do Príncipe da Dinamarca, a montagem é dirigida por Aderbal Freire-Filho. A capital pernambucana abre a turnê brasileira da peça, que passou um ano sendo encenada apenas no eixo Rio-São Paulo.

O diretor fez uma nova tradução da peça, em parceria com a professora de inglês Barbara Harrington e com o próprio Wagner Moura. Segundo o diretor, o objetivo foi ser fiel ao universo shakesperiano, privilegiando menos o campo literário e buscando a humanidade do que é dito. Ainda de acordo Aderbal Freire-Filho, sua direção é norteada pelo caráter metateatral tão presente na obra de Shakespeare, especialmente em Hamlet. O diretor explica que, em cena, os atores estarão sempre no palco, como se fossem uma companhia de teatro contando a história.

O elenco conta com dez atores e traz nomes como Georgiana Góes (Ofélia), Caio Junqueira (Horácio), Fábio Lago (Laerte) e também a dupla Gillray Coutinho (Prêmio Eletrobras por ‘O Púcaro Búlgaro’) e Cláudio Mendes (O que diz Molero), parceiros de longa data de Freire-Filho. Carla Ribas volta ao teatro para viver a rainha Gertrudes, depois de protagonizar o elogiado longa A Casa de Alice, selecionado para a última edição do Festival de Berlim.

A cenografia fica por conta da dupla Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque e os figurinos são de Marcelo Pies. A trilha sonora é assinada por Rodrigo Amarante, que integrou a banda Los Hermanos.

O espetáculo tem início às 20h no sábado e 19h no domingo. O preço para cadeiras é R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia) e para o balcão 1º andar. R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).

Vi no JC.
Foto Divulgação

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sinfônica do Recife se rende ao clima junino no Santa Isabel

A Orquestra Sinfônica do Recife se rende ao clima junino e apresenta, nesta terça-feira (9), às 20h, no Teatro de Santa Isabel, o Concerto de São João, com arranjos sinfônicos do cancioneiro da época. O programa traz obras de Luiz Gonzaga e seus parceiros com arranjos de Ciro Pereira, Maestro Duda e Clóvis Pereira. O sanfoneiro Gennaro fará participação como solista, quando interpretará obras do mestre Sivuca.

Regente da orquestra, o maestro Osman Gioia revela que foram escritos, especialmente para a noite, arranjos inéditos de obras dos homenageados do São João do Recife 2009 - João Silva e Jackson do Pandeiro - pelos arranjadores Nilson Lopes e Marco Cezar.

A apresentação será aberta com “Mourão”, de Guerra Peixe e Clóvis Pereira. Seguindo a linha que mescla a música erudita e a música nordestina, o público será contemplado com composições como “Chegança” e “Momento Armorial”, de Benny Wolkoff.

No mesmo dia do concerto, a partir das 9h, a Orquestra Sinfônica do Recife realizará Ensaio Aberto para estudantes e profissionais de música. A entrada é franca.
Fonte: JC Online
Foto: Divulgação

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Palco Giratório se despede dos palcos pernambucanos

Completando um mês de apresentações nos palcos do Recife, o Festival Palco Giratório, do Sesc, despede-se do púbilco com fim de semana de teatro e dança.

Nesta sexta-feira (29), às 20h, a Ginga Companhia de Dança, do Mato Grosso, apresenta no Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife) Cultura Bovina?. A montagem utiliza recursos do teatro e da dança através da movimentação corporal e da abstração de imagem para fazer uma crítica à cultura da pecuária, leilões, política, prostituição.

Do Rio de Janeiro, vem o grupo Roda Gigante, que monta Inventário – aquilo que seria esquecido se a gente não contasse, no Teatro Barreto Jr (Rua Estudante Jeremias Bastos, s/n, Pina), às 20h. A peça conta os relatos das alegrias e tristezas das experiências de palhaços nas enfermarias de hospital. As cenas misturam realidade e ficção nas vozes do paciente, do artista, do médico e do palhaço.

Os ingressos custam R$ 10. Comerciários, estudantes, idosos e professores pagam R$ 5.
Vi no JC Online.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Banda Obscurity Tears lança CD promocional

A banda Obscurity Tears lança o Promo CD "My Chemical State". Primeiro lançamento oficial desde o debut-CD de 2000, "Songs for a Black Winter". Este CD marca a estréia da vocalista Márcia Raquel, dona de uma voz excepcional. O CD está com uma excelente produção musical e um material gráfico digno de banda internacional. A banda mescla influências de modo a criar um disco bem coeso e com atmosfera melancólica, típica do doom metal do início dos anos 90, com arranjos que remetem ao rock progressivo dos anos 70. O CD possui 04 faixas absolutamente cativantes.

O blog vai sortear um CD, fique atento!


Seletiva Nacional da Bandas


A banda Obscurity Tears da cidade de Vitória de Santo Antão-PE foi uma das 05 escolhidas para participar da seletiva Pernambucana do “W:O:A Metal Battle-Brasil 2009” que acontecerá na cidade Recife-PE. As apresentações tem 30 minutos de duração, com material estritamente autoral. A avaliação das apresentações das concorrentes é feita por um corpo de jurados indicados pela conceituada Revista Roadie Crew. Com novo álbum – My Chemical State – a Obscurity Tears enxerga a oportunidade de mostrar um trabalho que privilegia singularidade e performance. A final nacional, que será realizada no dia 24 de maio no Rio de Janeiro, contará com as bandas vencedoras de cada seletiva regional. A banda vencedora da final da etapa nacional terá como premiação o direito de representar o Brasil no “W:O:A Metal Battle”, durante o festival “Wacken Open Air”, edição 2009, na cidade de Wacken, na Alemanha.

Release de autoria da Banda Obscurity Tears.
Texto revisado por Marcelo de Marco.

Conheça um pouco mais sobre a Obscurity Tears

Em março de 1994 na cidade de Vitória de Santo Antão-PE, os amigos Flávio Brito (Guitarra), José Alves (Guitarra) e Wíres Alves (Bateria) formam a banda Smashed Face, com o propósito de fazer composições na linha Doom Death Metal. Completando o line up com Wellington Resende (Vocal) que é irmão de Wíres e Luciano Rodriguez (Baixo).

As composições da Smashed Face mudaram muito, tanto nas letras quanto musicalmente. Assim, houve uma necessidade de mudar o nome da banda, passando a se chamar Obscurity Tears no ano de 1997.

Em julho de 2000 a Obscurity Tears lança de forma independente o álbum Songs for a Black Winter com 5 composições na linha Doom/Gothic Metal, com o seguinte line up: Nitelma Lima (vocal), Wellington Resende (vocal/guitarra), Evandark (guitarra), José Alves (teclado), Jefferson Barreto (violino), Flávio Brito (baixo) e Wíres Alves (bateria).

Em seguida é feita uma jornada de shows para divulgação do álbum. A banda se apresenta em diversas cidades do estado de Pernambuco e em outros estados do Nordeste.

O CD Songs for a Black Winter teve uma ótima aceitação do público e da mídia especializada. Foi avaliado e elogiado por diversas revistas, tais como: Roadie Crew, Valhalla e Rock Brigade. Tendo nota sempre acima da média. O CD também teve divulgação a nível internacional, sendo distribuído em países como: Bélgica, Alemanha, México, Japão, Portugal e Holanda.

Com a boa repercussão do álbum Songs for a Black Winter houve interesse de algumas gravadoras para lançamento do segundo álbum, mas as negociações não foram adiante porque a banda apresentava problemas na formação.

Em junho de 2002 a banda participa da coletânea Black World, organizada pela Satânic Evil Produções. Uma coletânea contendo as principais bandas de metal nacionais. A faixa escolhida foi Crying in Silence.

No mês de dezembro de 2006 é gravada uma pré-produção com 8 músicas que farão parte do segundo álbum.

A banda se prepara para o lançamento de um single com 3 músicas ainda este ano e o segundo álbum no primeiro semestre de 2009.

O line up atual conta com Márcia Raquel (vocal), Evandark (guitarra), José Alves (guitarra), Flávio Brito (baixo/vocal) e Denes (bateria).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Peça "Ensina-me a viver" em duas apresentações no Recife.

A atriz Glória Menezes, comemorando 50 anos de carreira, sobe ao palco do Teatro da UFPE, nos próximos sábado (9) e domingo (10), no espetáculo ‘Ensina-me a Viver’, dirigido pelo pernambucano João Falcão. O texto de ‘Ensina-me a Viver’, com tradução de Millôr Fernandes, é uma adaptação teatral do filme ‘Harold and Maude’, sucesso de público e crítica assinado por Coling Higgins na década de 1970.

O espetáculo é uma história de amor entre o jovem Harold (Arlindo Lopes), obcecado pela morte, e a senhora Maude (Glória Menezes), apaixonada pela vida. Sensível, inteligente e rico, Harold não conheceu o pai. Convive com uma mãe indiferente e autoritária, numa relação desprovida de qualquer contato afetuoso. Atormentado, Harold tenta chamar a atenção materna simulando "tragicômicas" tentativas de suicídio.

A quase octogenária Maude, ao contrário, tem uma paixão incomparável pela vida. Aproveita cada segundo de sua existência como se fosse o último. No contato entre esses dois há sintonia imediata. Maude, cheia de alegria e positividade, ensina ao deslocado Harold os prazeres da vida e da liberdade.

Os ingressos para as apresentações custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia) para poltronas na platéia e R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) para o balcão. As entradas estão à venda na bilheteria do teatro e na Saraiva Mega Store, no Shopping Recife.

Espero poder ir.

Com informações do PE360graus.
Fotos Divulgação

segunda-feira, 23 de março de 2009

Célio Meira: 120 anos de seu nascimento.

Se estivesse vivo, o saudoso escritor vitoriense Ceciliano Célio Meira de Oliveira Melo, estaria completando 120 anos.

Como guardião de sua obra, não poderia deixar de registrar o momento.

O escritor, que foi membro da Academia Pernambucana de Letras (cadeira 22), da qual foi presidente, é natural de Vitória de Santo Antão, autor dos livros Vida e Tempo (1973), Vida Passada(1939), Migalhas de Poesia (1972) e Falando de rosas e Amores, alem de centenas de crônicas publicadas em diversos jornais do Brasil e do mundo, sob um de seus vários pseudônimos: Célio Meira, Ambrósio de Arandu, Cecília Mendes, João da Noite, Juvenal da Macedônia, Lio, Príncipe Helvécio ou Ronald Lemos; todos assinados pelo nosso conterrâneo.

Em tempos que não existia internet, correspondia-se com dezenas de jornais de vários paises, sendo considerado por estudiosos como um dos maiores escritores nordestinos de sua época. Vindo a falecer em 21 de setembro de 1972.

Lamentável que pouco se fala sobre Célio Meira em nossa cidade. As homenagens em seu nome, resumiram-se a nome de rua.

Vitória, terra de grandes nomes, mas de gente que ainda custa a valoriza os seus celebres conterrâneos...

Registro os 120 anos de nascimento do Escritor Célio Meira, mandando um abraço para seus familiares.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Preparativos: o Carnaval de Vitória e suas ornamentações.

Num desses carnavais, não lembro quando, estive pelas bandas do município de Bezerros, terra dos Papangus, no agreste pernambucano, e lá, fiquei impressionado como as pessoas se envolviam de fato, com a cultura peculiar daquela cidade. As casas eram ornamentadas com máscaras carnavalescas e outros adereços. E a população, receptiva e devidamente fantasiada, brincava em frente as suas portas como numa perfeita comunhão com os que por ali passavam. Imagino que nossa querida Vitória de Santo Antão, já tivesse experimentado momentos como esses. Um passado por muitos, definido como “saudosos carnavais”, eternizado apenas pela memória de alguns e por escritos de cronistas daquela época.

MAS, passando pela Praça Leão Coroado, me deparei com a Estação Ferroviária iluminada e com uma bela ornamentação. Vitória já começa a respirar ares dos antigos carnavais. Parei e claro, registrei aquela bela cena por mim nunca vista em Vitória, com aquela vontade de compartilhar com vocês.




Curioso, fui procurar como estavam os preparativos para transformar a nossa cidade em uma Vitória digna da nossa rica cultura popular. Conversamos então, com o alegorista Deusdedith da Mata, um dos responsáveis pela execução da ornamentação de nossa cidade, para as festas de momo. Confira algumas fotos:


Confira os vídeos abaixo.


domingo, 8 de fevereiro de 2009

ALEGORIA VITORIENSE: O CISNE

Na antiguidade, em época de boas colheitas, para agradecer aos deuses, os camponeses realizavam festas nas quais enfeitavam seus corpos e, envolvidos pela música, demonstravam a alegria que sentiam em seus corações.

Poderíamos até afirmar que estas seriam as origens remotas do carnaval, mas uns alegam que as manifestações carnavalescas remontam às comemorações a Ísis e ao boi Ápis no antigo Egito; outros, às celebres bacanais, dos gregos, ou às saturnais, festas pagãs dos romanos.

Na Idade Média, com a repressão da Igreja, destas celebrações pagãs, sobrevivem apenas as máscaras que, mais tarde, no século XVI, evoluíram para as fantasias, permanecendo até os dias atuais. Nessa época, a festa pagã chega ao Brasil com o nome de entrudo, também denominado brinquedo selvagem, mela-mela como vemos ainda hoje, em algumas cidades do interior, sendo festejada tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira que antecedem o período da quaresma.


Entrudo, retratado no século XIX pelo pintor francês Debret.
Atualmente, em nosso país, existem três pólos monopolizadores do carnaval: o Rio de Janeiro, onde predomina o samba; a Bahia, cujo forte é o carnaval estilizado, comandado pelos trios elétricos; e, por fim, o mais fiel à tradição, que é o de Pernambuco, com uma infinidade de manifestações folclóricas, em que há o predomínio da criatividade e da popularidade, como: maracatus, caboclinhos, ursos, bois, blocos, etc...

Para cada expressão de folclore, existe uma particularidade especial, o maracatu de baque virado e o maracatu de baque solto ou rural. O maracatu de baque solto tem como sede a cidade de Aliança, interior de Pernambuco, denominada Associação dos Maracatus de Baque Solto. Os clubes de frevo são originários do Bairro de Santo Antônio, São José e da Boa Vista, tendo como primórdios antigas corporações ou profissões, tais como: carvoeiros, ferreiros, varredores. Já os blocos, são originários da poesia e do saudosismo. Eles surgiram das grandes reuniões familiares, como extensão dos pastoris e dos ranchos. Além das troças de caboclinhos, ursos e dos bois, ainda dispomos dos Papangus, de Bezerros; dos Bonecos Gigantes, de Olinda; do Clube de Máscaras Galo da Madrugada, e do carnaval de alegoria de Vitória de Santo Antão.

A cidade de Vitória de Santo Antão está aproximadamente a 48 km da cidade do Recife, sendo considerada, a grande defensora do carnaval de alegoria do estado de Pernambuco, com um grande número de agremiações do gênero. Trata-se de clubes que tiveram suas origens na segunda metade do século XIX, mesma reverência ao carnaval europeu.

O carnaval vitoriense caracteriza-se por sua grande diversidade. São troças, clubes de fados, de manobras, alegorias, os belíssimos maracatus, caboclinhos, escolas de samba e por fim os gigantescos blocos de trio, que contribuíram para os 127 anos de folia vitoriense, tornando-se por diversas vezes um dos melhores – ou senão o melhor – dos carnavais do interior de Pernambuco.

É certo que houve uma grande desfiguração carnavalesca após a chegada, no início da década de 90, dos trios baianos e seu Axé ensurdecedor, causando um grande choque de ritmos e estilos, que de uma forma estranha fez com que a própria população deixasse suas origens e culturas de lado. Mas, acreditava-se em uma inovação, modernização e diversificação, que, infelizmente, tornou-se uma escancarada descaracterização.

O carnaval em Vitória chegou ao seu apogeu na primeira parte do século XX, onde foram criados diversos tipos de agremiações que faziam a população festejar com muita alegria. Dentre elas, os Clubes de Fados e os Clubes de Manobras. Estes últimos, com inúmeros fãs, realizando grandes desfiles e bailes, principalmente o “Abanadores”, posteriormente batizado como “O Leão” pelo poeta Teopompo Moreira (JOSÉ ARAGÃO, 1983, p. 300), e o “Vassouras”, conhecido como “O Camelo”.

Segundo o professor José Aragão, no seu livro História da Vitória de Santo Antão, volume III, foi em uma dessas grandiosas apresentações que tudo começou. O “Vassouras’’ vinha do bairro do Livramento e da Matriz vinha o “Abanadores”, fazendo os rivais se chocarem durante o percurso, levando as a autoridades ordenarem o recolhimento às suas sedes, prevendo piores conseqüências. Posteriormente, pensando em evitar tais interrupções, vários foliões reuniram-se para fundar uma nova agremiação, formada em sua maioria por motoristas como afirmou o célebre jornalista João Álvares:
O Clube dos Motoristas da Vitória de Santo Antão foi fundado no mês
de março do ano de 1949, idealizado por um grupo de motoristas e pessoas ligadas
ao ramo automobilístico que desejavam construir um clube para proporcionar lazer
para os profissionais do volante, bem como cultivar solidariedade e o espírito
de disciplina e cooperação nas relações humanas.
Foi assim que surgiu o “Clube dos Motoristas”, em reunião realizada em 04 de março de 1949, pelos seus fundadores: “Valdemar Lino Chaves (1º presidente), Alfredo Francisco de Oliveira, João Vicente de Freitas, Sebastião Ferreira do Nascimento, Joaquim Francisco Damásio, Pedro Ferreira Guimarães, Abiatar Ferreira Chaves, Manoel José de Souza e Sebastião Pinheiro de Souza” (HISTÓRICO: CLUBE DOS MOTORISTAS, 2004, p. 09) Com a presença de mais de 80 pessoas, naquele mesmo dia, a primeira diretoria ficou assim formada: presidente - Valdemar Lino Chaves, vice-presidente - Jefre Coelho de Albuquerque, 1º secretário - Tertuliano de Albuquerque Barros, 2º Secretário - Valdemiro Lino Chaves, orador - José Hermínio da Silva, diretor - José Vicente de Freitas, fiscal - José Hipólito dos Santos, tesoureiro - Sebastião Barbosa de Araújo (JOSÉ ARAGÃO, 1983, p. 302) empossados dois dias depois.

No ano seguinte, em 1950, estreava-se pelas ruas da cidade, já com muita alegria, que ao longo dos anos foi atraindo muito mais foliões.

A primeira sede, era localizada na Rua Prefeito João Cleofas, sendo vendida, posteriormente, em 1965, pelo então presidente João Álvares, com a idéia de construir uma nova sede, vindo a ser inaugurada no dia 20 de julho do ano de 1971, no bairro do Cajá.

Entre os anos de 1965 e 1971, as reuniões eram realizadas na sede da Associação Comercial, na Avenida Mariana Amália, sendo o ponto de concentração nos dias de desfile, onde, por horas, se reuniam dezenas de foliões, aguardando, ao som da orquestra em aquecimento, o momento da sua saída.

Alegorias

O “Motoristas” destacava-se pelos seus belíssimos carros alegóricos, baseados nos temas criado para cada carnaval. Em 1966, uma alegoria criada pelo grande artista vitoriense José Marques de Sena (fundador do Museu do Carnaval) em homenagem à Marinha do Brasil, causou muitos comentários durante o seu desfile, devido a um grande Cisne (símbolo da Marinha) no carro principal.

A figura do Cisne fez tanto sucesso, que a população não parava de comentar durante os três dias de carnaval daquele ano. Devido à grande repercussão do Cisne entre os foliões, a então diretoria decidiu adicionar “O Cisne” em seu nome, passando a se chamar “Clube dos Motoristas – O Cisne”. Mas, segundo o alegorista José Marques de Sena "Mas cisne ainda é apelido, não é nome".

Em 1969, a chegada do homem à Lua trouxe inspiração ao artista José Marques de Sena, resultando em uma histórica alegoria que chegou a ganhar destaque nos jornais da capital após sua exibição no carnaval de 1970, merecendo além dos aplausos, um grande agradecimento do Consulado Americano.

O sucesso se repetiu por diversos carnavais, sempre com seus temas originais e carros alegóricos com muita criatividade.

Com a febre dos trios elétricos, o “Clube dos Motoristas – O Cisne” passou por diversas dificuldades, chegando a diminuir suas exibições e, durante alguns anos, chegou a não conseguir colocar-se nas ruas.

Esse ano, o alegorista José Marques de Sena completa 60 carnavais, sendo 50 deles cuidando pessoalmente das alegórias do Clube dos Motoristas. Com o tema Vitória dos Quatro Tempos, o alegorista nos mostrou o carro ainda em construção.




Novo estandarte do Clube dos Motoristas.
Ao lado, Deusdedith da Mata.
Na mesma oportunidade, filmamos o alegorista Deusdedith da Mata, prestando sua homenagem ao grande ícone da nossa cultura, o José Marques de Sena. Confira abaixo.
Relembrando momentos inesquecíveis de sua carreira e dos antigos carnavais, o alegorista José Marques de Sena, teceu alguns comentários. Confira os vídeos abaixo.

José Marques de Sena







quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Primeiro momento.

Hoje tivemos oportunidade de conversar com o José Marques de Sena, mestre das alegorias do nosso carnaval. Ele nos falou um pouco sobre sua história e sobre o Clube dos Motoristas - O Cisne, do qual faz parte. Aproveitando o pique, demos uma passadinha no galpão onde estão sendo preparadas as ornamentações que irão colorir a cidade neste ano; lá conversamos com o Deusdedith da Mata, um dos alegoristas que estão trabalhando pela bela roupagem do Carnaval da Vitória. Conversamos tambem com o carismático José Francisco de Santana, porta estandartes com mais de 30 carnavais.

Reportagem, fotos, videos e entrevistas confira aqui, nas próximas postagens.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

BLOG PUBLICARÁ SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE AS TROÇAS CARNAVALESCAS DE VITÓRIA

Recebemos uma ótima sugestão do amigo internauta Eduardo Álvares, vitoriense residente em terras potiguares. Aproveitando o zum-zum-zum das prováveis novidades (nem tão novas) no Carnaval de Vitória, ele nos sugeriu acompanhar como estão os preparativos, em uma série de reportagens sobre as troças e seus carros alegóricos.

Como tenho uma paixão tremenda pela cultura pernambucana, achei a idéia espetacular e claro será aproveitada. Já começamos a burilar a sugestão, ainda essa semana publicaremos a primeira reportagem de uma série que chamaremos “Alegorias Vitorienses: acompanhado o processo criativo”, onde vamos apresentar os bastidores do carnaval e os artistas que estão por trás da preservação de nossa cultura, como também difundir a história, por vezes desconhecida, de nossas manifestações culturais.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Obras de Lygia e Zélia ganham nova roupagem

A obra de duas damas da literatura brasileira ganha nova roupagem e já se apresenta aos leitores logo neste início do ano. Lygia Fagundes Telles e Zélia Gattai terão seus textos agora publicados pela Companhia das Letras, que desenvolveu um esquema especial de relançamento para cada uma. Zélia será a primeira a se apresentar, já em fevereiro, com a chegada de dois de seus mais famosos títulos, enquanto Lygia receberá justas homenagens em abril, com uma série de eventos.

Com uma escrita essencialmente biográfica, Zélia (1916-2001) deixou nove livros de memórias, um romance e três obras infantis O mais famoso foi justamente o que marcou sua estreia na literatura, lançado quando ela estava com 63 anos: Anarquistas Graças a Deus. Trata-se de um delicado retrato dos imigrantes em São Paulo, no início do século passado, quando italianos, espanhóis e portugueses fomentaram um movimento político-operário de fundo anarquista.

O livro tornou-se um imenso sucesso quando lançado em 1979, inspirando uma minissérie de televisão e distinguindo Zélia, que deixou de ser conhecida apenas como a mulher de Jorge Amado. "E até hoje continua muito adotado, daí nossa decisão de iniciar o relançamento com o Anarquistas e Senhora Dona do Baile", comenta Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras.

As duas obras chegam em fevereiro, cada uma com um caderno de fotos, detalhe, aliás, que vai acompanhar toda a reedição. Ao todo, serão reeditados 11 títulos separadamente - outros quatro deverão ganhar um corpo único, sob a organização do competente crítico e jornalista José Castello, que vai destacar seu cunho memorialístico. "É justamente o recorte na obra da Zélia que recupera a trajetória da família Amado", explica Schwarcz.

Em junho, será a vez de um infantil, Jonas e a Sereia. Outro grande sucesso da autora, Um Chapéu para Viagem, chega em agosto Com a previsão de lançamento de dois títulos por semestre, a sequência prossegue até fevereiro de 2011, data para Chão de Meninos e Cittá di Roma.

Já os livros de Lygia Fagundes Telles começam a chegar em abril com um precioso projeto editorial: as capas serão desenhadas por Beatriz Milhazes, uma das artistas brasileiras com maior reconhecimento no exterior na atualidade. E, desde que foi formalizado o contrato com a escritora, no final do ano passado, dois consultores, Alberto da Costa e Silva e Antônio Dimas, vêm relendo seus textos para reorganizar a nova publicação.

Os primeiros livros a ganhar nova roupagem chegam também com um ensaio crítico especialmente escrito para cada um. Assim, As Meninas terá a análise de Cristóvão Tezza enquanto o próprio Antônio Dimas se encarregará de Antes do Baile Verde. E Ana Maria Machado cuidará de Invenção e Memória. As obras terão ainda uma fortuna crítica especialmente preparada.

A festa, em abril, promete ser grande - além do início da reedição, a dramaturga e escritora Maria Adelaide Amaral vai selecionar trechos da obra da escritora e convidar atores para fazer uma leitura dramática. E o escritor e compositor Arthur Nestrovski prepara uma música especialmente para o evento.

O contrato com a Companhia das Letras, que passa a ter validade a partir do próximo mês, prevê a edição de 12 títulos. Com a antiga editora, a Rocco, continuam Conspiração de Nuvens e as coletâneas Meus Contos Preferidos e Meus Contos Esquecidos cujos contratos não expiraram. E também dois livros que Lygia se comprometeu a entregar, Passaporte para a China (crônicas escritas durante a visita àquele país, em 1964) e o infanto-juvenil Gatos, Cachorros e Outros Bichos. "Ela, no entanto, continua em plena atividade e já confidenciou que vem escrevendo algo novo, o que vai coroar sua vinda à editora", comemora Schwarcz.

Fonte: AE

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Maupassant, um mestre do conto.

Henry René Albert Guy de Maupassant foi escritor, poeta e um dos maiores contistas de todos os tempos. Sua obra é conhecida por retratar situações psicológicas e fazer crítica social com técnica naturalista.

Maupassant teve uma infância e uma juventude aparentemente felizes no campo, em companhia da mãe, uma mulher culta e depressiva, que foi abandonada pelo marido.

Na década de 1870, ele se dirigiu a Paris, onde se firmou como contista e teve contato com os grandes escritores realistas e naturalistas da época: Zola, Flaubert e o russo Turguêniev.

Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, muitas das quais algumas se tornaram mundialmente conhecidas, como Bola de Sebo, O Colar, Uma Aventura Parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett e O Horla.

Maupassant talvez tenha sido, nos últimos anos do século XIX, o escritor mais lido no mundo.

Rico e famoso, ele teve muitos casos amorosos, mas a sífilis o atormentou por mais de uma década, ocasionando-lhe pesadelos, angústia e de alucinações.

Em 1882, Guy de Maupassant tentou o suicídio. Morreu no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.

* 05/08/ 1850, Tourville-sur-Arques, França
+ 06/07/1893, Paris, França

Referência: UolEducação.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Nuvem Mórbida*


Os sinos tocam, uma leve ventania fazia um dos senhores segurar o seu chapéu, enquanto um dedo enrugado deslizava entre as peças de damas. Ele sentou e esperou. Observava atentamente a escadaria da igreja, as beatas desciam em pequenos passos, as crianças começavam a correr de um lado para o outro ao som da Ave-Maria que saia dos alto-falantes. Pombos circulavam do outro lado da praça, talvez, esperando um daqueles senhores sacudirem os grãos ao chão.

Ele não conseguia parar de olhar os senhores do tabuleiro; apesar de estar ali esperando há mais de trinta minutos, ele continuava com o seu sorriso de quem estivesse passando por uma experiência talvez única.

O carro parou e buzinou. Aquele barulho havia chamado a atenção de todos, inclusive dos pombos, que ao buzinar do automóvel, voaram em direção aos braços do Cristo crucificado. Você não vem? Perguntou a garota, da porta do carro.

Acertaram o encontro na tarde anterior. A mesa era estreita, mas chegava a caber diversas canetas e lapiseiras além de grossos livros de história e cadernos que se revezavam entre eles tentando um descobrir como o outro respondeu aquela questão. Mário - interrompeu ela - você já foi num asilo? Ele achou um pouco estranha aquela pergunta; o que havia o asilo com a história? Não... acho que não, por quê? Ela fechou os livros e explicou ainda com a lapiseira na mão que seus pais visitavam, sempre aos domingos, um lar de idosos perto da chácara da família. Após diversas tentativas, ele acabou cedendo.

Eram dois galpões divididos por um salão principal; na entrada um senhor trabalhava em um modesto jardim repleto de acácias; ele, assim que avistou os visitantes logo abriu um sorriso e acenou. O carro acabou parando perto da lavanderia, que ficava um pouco depois das acácias.

No salão principal, dezenas de senhores e senhoras batiam palmas em um belo louvor, enquanto outros apenas cochilavam, sentados em um dos sofás avermelhados espalhados pelo salão. Por um momento pensou em voltar para o carro e esperar que sua amiga voltasse com seus pais, mas ele era um jovem curioso. Logo entrou em um dos cômodos do primeiro galpão e apesar de ter demorado um pouco, logo se habituou.

Mas foi no quarto de número sete, que ele conheceu dona Tonha; ele sempre ficava com algum receio ao conversar com ela, mas ela era sempre comunicativa, falava de tudo: sua cidade, a santíssima e a casinha que tinha. Chorava quando falava de seus filhos. Mas logo mudava de assunto, falava da época da ditadura, lembrava do cadastro que havia feito com os comunistas. Nome? Antônia Maria Dolores. Filhos? Três. José Joaquim, José Manoel e José Severino. Fotos? E ela entregava as fotos 3x4 de cada um. Com o sentido que em uma semana chegaria os prometidos. E chegava; nas cestas vinham a cada quinze dias: arroz, feijão e batatas. Um quilo de cada.

Contou que cozinhava um pouco de cada coisa, sempre a cada quatro dias, economizava fervorosamente o santo alimento dos comunistas, mas como tudo chega a um fim. Ela chorou.

Falou da ajuda que recebia dos Bezerra e Silva; deixava os filhos em casa, todos chorando com fome: haviam passado mais de três noites sem comer nada. Chegava no armazém do Chico Bezerra por volta das quatro da madrugada. Ele quando a via, já pegava uma sacola de plástico e colocava um punhado de cada um dos cinco sacos de farinha. E ela corria para casa, fazia uma mistura de sal, água e farinha e cinco minutos depois estava todo mundo feliz, de barriga cheia.

A afinidade era tanta entre Mário e ela, que ele começou a visitá-la todas as tardes de domingo. Ficavam horas conversando e comendo pedaços de bolo (de mandioca) que ela adorava.

No quarto, de uma pequena escrivaninha ela tirava seus talheres e um prato, nunca comia em outros, sempre só nos seus. Ele sempre reparava nesses pequenos detalhes que faziam parte do cotidiano dela. Em cima da escrivaninha ela sempre acendia uma vela, e por volta de cinco minutos de seu jovem amigo chegar orava, pedindo forças e saúde ao seu novo neto.

Ele completou quinze anos, começou a trabalhar em uma obra perto de casa. Era quinta-feira da paixão, correu até lá para contar a ela sobre o seu primeiro emprego. Foi a pé. Passou pela avenida e pelas ruas do centro às pressas. A felicidade era tamanha que ele chorava de tanta alegria.

Ele murchou; sentia como se estivesse passando por uma estranha nuvem mórbida, sentiu seu coração arder ao ver uma estranha movimentação no salão principal. O que está havendo? Perguntou assustado.

O choque foi tão grande, que tudo escureceu. Bamboleou e quase caiu perto do caixão.

Arquiles Petrus
*Conto integrante do livro Cataclismo, Editora Baraúna, 2005.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O PAI QUE AMAVA (Conto)


Para muitos era uma família estranha; não que seja desmantelada como essas famílias de hoje em dia. Eles eram diferentes, pelo menos para a vizinhança, sempre comentavam alguma coisa sobre eles. Talvez pelos seus hábitos esquisitos. Mas, nada fora do “normal”: trocavam as fechaduras todos os meses, não conversavam com ninguém e vestiam roupas estranhas, sem falar que nunca se via alguém lá dentro daquela casa.

A família era pequena: Hugo, o pai, alguns gatos e a pequena Clarisse de apenas cinco anos. Hugo tinha em torno de trinta. Era um magro sisudo de rosto esticado, talvez por causa de uma cicatriz que atravessava parte de seu rosto. Parecia sempre estar melancólico. Os vizinhos nunca o viram sorrindo, a não ser nas horas que ele saia para comprar os doces da pequena Clarisse, em um fiteiro da esquina. Ele era meio apressado. Não importa para onde ia ou se estava atrasado, às vezes até sem destino.

Clarisse era linda. Tinha olhos verdes (como os do pai) branquinha de tez vivaz e sempre usava roupinhas combinadas: se a pequena blusa era de cor rosada, todo o conjuntinho teria que seguir a mesma linha. Era uma exigência sua e não mudava de jeito nenhum.

- Papai eu muito gosto de você viu? – falou a pequena Clarisse, durante o jantar.

Ele se continha. Não agüentava ouvir essas coisas da pequena. Amava muito sua Bonequinha (como ele a chamava). Ela era tudo para ele, a amava de tal forma que começou a se preocupar com o seu futuro. Abriu uma popança em seu nome e começou a aplicar-lhe dinheiro. “Ah, sim, com muita certeza ela há de fazer uma boa faculdade!” pensava a cada novo deposito.

Ele adorava passar as tardes brincando com ela. Dava o próprio rosto para a Bonequinha praticar suas habilidades de maquiadora. Constrangido, ele se sentia uma sirigaita, fazendo a pequena morrer de rir.

Na hora do banho era uma novela! Há semanas que ela tomava banho sozinha. E quando ele ousava em lhe ajudar ela retrucava: “Papai, eu já sou uma mocinha, já tenho idade suficiente para me enxugar só.” Ele apenas sorria.

Numa tarde, ele estava mexendo em alguma coisa na porta.

- O que você esta fazendo papai?
- Estou trocando a fechadura.
- Fechadura papai? O que é fechadura?
- É onde colocamos a chave para fechar a porta. – explicou ele – olhe aqui.
- Ah... Entendi... Mas porque o senhor mexe muito na fechadura, papai?

Ele não respondeu. Pediu para a garota brincar com os gatos no quarto, enquanto terminava o serviço.

Deveria agora esconder a nova chave em um lugar seguro! Afastou o centro – que estava na sala – para o canto da parede, pegou uma das cadeiras da cozinha, colocou-a em cima do centro, e subiu. Tentava alcançar à divisória daquela parede, que dava para o quarto de dispensa. Começou então, ali deixar as chaves. Temia que a pequena Clarisse, saísse para a rua, sem que ele soubesse.

Ele há muito vinha se preocupando com as portas. Principalmente depois que começou a ver alguns noticiários na TV. Muitos assaltos vinham acontecendo. Não eram na cidade, diziam os repórteres, mas ele iria confiar? “O mundo está muito perigoso!” não parava de pensar nisso.

A cada novo plantão ele ficava apreensivo. Roia as unhas quando via tanta miséria e desgraça acontecendo pelo mundo afora. Já era notória sua frustração para os vizinhos.

Bastava qualquer ruído durante a madrugada para ele sair correndo para o quarto da pequena Clarisse. Ele ficava apavorado só em pensar em acontecer alguma coisa com a sua princesa. Passou então a ser guarda noturno, todas as noites encostando-se à porta do quarto da pequena. E ao amanhecer acordava assustado com os gatos se esfregando em sua perna, talvez pedindo alguma coisa para comer.

Temia o futuro da sua Bonequinha, nesse mundo de tantos assaltos, estupros... de tantas discórdias. Não agüentava mais, tinha que fazer alguma coisa para protegê-la disso tudo!

Numa manhã ele trouxe algumas caixas. A pequena Clarisse ficou eufórica quando viu as lindas bolas vermelhas, as trenas e dezenas de outros enfeites. Começara então, com a ajuda do pai, a montar a sua primeira arvore.

Quando trocava a fechadura, pela quinta vez naquele mesmo mês, ele conseguiu pensar no presente que iria dar a pequena Clarisse. Na tarde seguinte foi ao shopping. Comprou um lindo travesseiro do Ursinho Pooh que ela tanto amava e lhe deu naquela noite.

- É lindo papai! – respondeu, dando um abraço demorado.

Ele deu um sorriso triste. Apertou o abraço da filha amada e deu-lhe o beijo em sua bochecha. – Está na hora de dormir, vamos...

Tudo já estava pronto. Deitou-a na cama e ajustou o novo travesseiro. A pequena com olhar de pidona lembrou a seu pai os contos de fadas de todas as noites. Ele suspirou. Contou-lhe em fragmentos rápidos, uma fantástica fábula de uma tartaruga lerda que vencia corridas para uma lebre que se achava inteligente. E, antes que a tartaruga cantasse de galo, a pequena já estava dormindo.

Ficou observando-a. Deixou que algumas das diversas lembranças passassem por seus olhos: as maquiagens extravagantes, o banho, os sonhos... Teria mesmo que ser assim? Determinado, tirou alguma coisa do bolso.

Hesitou.

Lembrara da esposa; do triste incidente que lhe arrancou a vida. Fora assassinada quando voltava para casa. Chorou descontrolado por não conseguir proteger sua esposa daquilo tudo.

Tudo iria se repetir?!

Olhou novamente para o objeto da mão esquerda.

Ouvia-se os sinos da igreja e algumas sonatas, quando teve que mover o delicado queixo de sua Bonequinha para, enfim, esvaziar o frasco por inteiro.

No dia seguinte, encontraram-no desnorteado, chorando em meio de várias bonecas; e dentre elas, estava a pequena Clarisse.

Arquiles Petrus.
Outubro de 2007.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Uma galinha

Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

parecia calma. desde sábado encolhera-se num cante da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou – o tempo da cozinheira dar um grito – e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou o telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão de rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais intima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como. o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou. Entre gritos e penas, ela foi presa. em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos.

Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

– Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

– Eu também! jurou a menina com ardor.

A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a da apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho – era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Clarice Lispector,
Laços de família. Rio, Francisco Alves, 2ª ed., 1961.