quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Últimas horas

Foto Ilustrativa - http://www.overmundo.com.br/


Nas últimas horas desse ano, algo me fez muito bem. Ontem, enquanto jantava numa pizzaria, uma pequenina se divertia em trocar pequenos saches de maionese comigo. Ela se abria de felicidade quando pegava o seu sache de catchup e atravessava algumas mesas pra me entregá-lo; e eu, claro, retribuía entregando o meu de maionese. Parece besteira isso, né? Não é não, ficamos nisso por minutos. Me sentia muito bem com os lindos olhos de felicidade da pequena Alice (como lhe batizei). Legal como as crianças se divertem com coisas simples. Isso é muito bom. Enquanto pouco tempo atrás estava irritado, ela curtia o seu momento de felicidade, nem aí pro pessoal que ria ao nosso redor, enquanto transbordava alegria pra todos.

Daqui a pouco se inicia um novo ano, deveríamos aproveitar essa renovação para fazer como a pequena Alice, que se entregou num simples momento que proporcionava felicidade. São das coisas simples que deveríamos aproveitar de verdade.

2009 será o ano de mudanças.


Arquiles Petrus

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Conto de Natal: O PRESENTE

Ontem, em comemoração ao Natal o jornal O Mossoroense (do RN) publicou o conto "O PRESENTE". Conto natalino que havia escrito em 2007.

Não leu? Leia aqui ou aqui.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cataclismo

Enquanto assistia aos jornais hoje pela manhã, quando noticiavam sobre graves enchentes lá em Minas, lembrei de um pequeno conto que escrevi aos quatorze anos. O texto é bastante antigo, integrou o livro de contos "Cataclismo", que reuniu meus primeiros escritos, publicado em 2005 pela Editora Baraúna. A ilustração é de João Francisco. Leia abaixo:


Cataclismo

Acordo. O relógio marca seis da manhã. Um cansaço emocional me vem à tona. Uma dor intensa na cabeça me faz ficar um pouco deitado por mais alguns instantes.

Visto-me e vou à sala. Não vejo ninguém. Sinto sede, vou à cozinha e só encontro algumas panelas em cima do fogão. Acho que todos ainda dormem. Lavo meus olhos num banheiro ali perto e volto ao quarto para procurar algum calçado pra sair.

Pela praça da Matriz, sigo em direção à avenida. Lá, encontro dezenas de pessoas tentando limpar as ruas completamente atoladas de lama; tenho que medir os passos para poder conseguir continuar, as casas comerciais estão em caos, portas foram arrombadas pelas águas, dava parar ver dezenas de celulares, sapatos e várias outras mercadorias encharcadas de lama nas encostas. Alguns tentam salvar o que restou... outros roubavam o que havia restado.

Pasmo, porém curioso, acelerei os passos. No final da avenida, escuto alguém falar da Rua da Madeira. Não escutando bem o que aquele senhor havia falado, decidi ir lá e ver o que havia; afinal, estava bem perto dali.

Um bebê chorava enquanto eu caminhava pelo que restava daquela rua. Sinto alguma coisa rodar em meu estômago. Aquilo não parecia ser uma rua, muita lama espalhava-se entre aparelhos de televisão, sofás ou brinquedos; lá, quase não se encontravam mais casas. Aquele conjunto popular estava em ruínas, várias casas haviam caído com a força daquele rio. Sinto alguém me puxar pelo braço!

“Aqui, filho, aqui, veja...”. Falou uma senhora apontando um risco na parede.

Senti como se meu coração tivesse sido colocado em uma máquina de moer carnes, com alguém rodando uma maçaneta, moendo aos poucos. Meu coração estava em migalhas.

“A água chegou aí?” – Perguntei perplexo.

Antes que ela respondesse, eu já estava muito longe dali. Voltei minha atenção à rua, enquanto aquela senhora começava a contar como conseguiu salvar seu animal de estimação. Volto a caminhar, a situação é deplorável; eu me sinto como se estivesse em uma sena de guerra. Diante da esquina, parei. Uma senhora me observava. Seu olhar de sapiência me chamou atenção, sigo em sua direção; ela pega em minhas mãos e, olhando em meus olhos, deixa algumas palavras saírem de sua boca:

“Ainda há quem reclame da vida por tanta besteira...”

Concordei com ela, chorando. Talvez, ela conhecesse minha vida muito mais do que eu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MEU VELHO AMIGO.


Eu deveria ter escutado meu bom e velho amigo. Sempre me alertava sobre o tempo e o quanto deveria aproveitá-lo ao máximo. Há pouco, percebi que ele sempre teve razão.

Tenho recordado de momentos que estivemos juntos, antes de sua morte. Não eram longos diálogos, nossas conversas se limitavam a pouquíssimos minutos. Mas quando mandava me chamar em sua sala, no trabalho, ficava ansioso pensando em que iria ouvir.

Sua voz serena, cansada de muitos anos, fazia uma ótima relação com o ambiente deixando-o propicio para um bom aprendizado. Seus olhos, quase cobertos por suas pálpebras caídas pelo tempo, me fitavam enquanto comentava sobre suas experiências. Disse-me, certa vez, que eu precisava ter paciência. Conhecia qualquer que seja, com seu olhar clínico, de pai atento. Eu estava ansioso. Alertou-me que o reconhecimento é resultado de muito trabalho e bom aproveitamento do tempo. Falou da época em que seus olhos lhe permitiam ler com mais facilidade, enquanto seus amigos saiam desenfreados em correria de um lado para outro, durante intervalos entre as aulas, ele abria um livro e aproveitava o tempo, o seu precioso tempo para ler mais algumas linhas. Ele sempre teve razão, perdemos tanto tempo com futilidades que esquecemos que estamos neste mundo para se desenvolver e ser útil. E, eu, em minha ignorância juvenil, não havia compreendido naquela época o que ele tanto queria me dizer.

Nesse dia nossa conversa durou pouco mais que cinco minutos; mais tempo que qualquer outra que tivemos. Lamento não tê-lo por aqui, deveria ter ouvido meu bom e velho amigo, talvez não tivesse perdido tanto tempo.

Arquiles Petrus

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Conto: A morada de Deus

Fazia eu a barba, quando minha filha de cinco anos perguntou: - Papai, onde é que Deus mora realmente?

- Num poço – respondi distraído.

- Num poço?! – exclamou relutante, diante da tolice que eu havia dito.

Durante o café da manhã, minha esposa perguntou:

- Que foi que você andou dizendo à Laurinha acerca de Deus morar num poço?

- Num poço?! - estranhei. – Deixe-me ver... por que é que eu diria isso a ela...

Naquele momento não encontrei resposta para tal, bem mais tarde, de repente, recordei-me de uma cena que estivera escondida na minha memória durante uns trinta anos. Acontecera na minha terra, à pequena cidade de Goiana, um bando de ciganos havia chegado, no sítio onde morávamos pedindo água para beber, nessa época nossa fonte d´agua era um poço que tínhamos no quintal. Ao conhecer o motivo da chegada deles, vovô foi logo dizendo: - Mazinho leve-os ao quintal e dê-lhes água. Nessa época eu deveria ter uns cinco anos.

Daquele bando, um cigano em particular me chamou a atenção, por ser gigantesco, jamais havia eu visto homem tão grande. Havia tirado do poço um balde de água, e estava de pé, com as pernas fincadas no chão, com força, e bebendo água, como se não o fizesse há dias. Um fio de água corria-lhe barba abaixo, pois nas mãos segurava o balde como se copo não houvesse. Ao terminar, puxou um lenço da cabeça e enxugou o próprio rosto. Depois se inclinou e olhou para o fundo do poço, e permaneceu assim por alguns minutos. Curioso, tentei subir pela beirada de pedra para ver o que ele tanto observava lá embaixo. O gigante notou, deu uma gargalhada e levantou-me pelos braços.

- Sabe que mora lá embaixo? - perguntou-me.

Abanei com a cabeça.

- É Deus – disse ele com convicção.

- Deus?! – esbravejei incrédulo.

– Olhe! – e segurou-me bem acima da borda do poço como um guindaste.

Lá, na água parada como um espelho, vi o meu próprio reflexo, e mais nada.

- Mas aquele sou eu! – respondi com irritação.

- Ah! – tornou o cigano, pondo-me delicadamente no chão. – Agora você já sabe onde Deus mora.
Altemar Pontes

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Conto: O JOVEM GUERREIRO

Durante o solstício, os membros do vilarejo se reuniam ao redor de uma grande árvore para festejar ao som de flautas e liras, e como já era esperado, fez-se silêncio quando o Sacerdote se aproximou.

Ele vestiu uma túnica de cor escarlate, levou os braços aos presentes e ao pé da grande árvore riscou alguns símbolos na terra branca, dando por iniciados os ensinamentos daquela noite.

Olhou para todos como quem procura alguém, e, ao avistar o jovem guerreiro Guy, filho de Gna, fez-lhe o gesto com as mãos fazendo-o aproximar. Tomou-lhe as armas e roupas, e, em seus olhos disse: Escuta o que te digo, chamarei o velho Mig's e lutarás com ele aqui, ao pé da sagrada árvore.

Guy era o mais forte, maior e o mais valente entre os homens do vilarejo. Sentiu-se, então, confuso ao ouví-lo. Como lutarei com o velho Mig's? Ele não agüentará um sopro sequer e logo cairá morto! - falou com tom seco ao Mestre; porém com outro sinal, o sapiente fez alguém se aproximar.

O velho Mig's aparentava ter mais de duzentos anos, era coxo e não enxergava de um dos olhos. Aproximou-se com certa dificuldade, fazendo o Sacerdote riscar algo no chão dando início à luta.

O jovem se movimentava com alvoroço: ia de um lado para outro, talvez pensando de qual forma ia fazer cair o velho indefeso; fez gestos com a boca e logo correu em direção a ele, como quem ataca um lobo em noite de caça. O velho esquivou-se. Bateu-lhe com uma das mãos e fez cair o jovem ao chão. Levantou-se furioso. Determinado. Rápido.

Pegou-lhe pelas pernas e quis derrubá-lo. Nada. E o velho Mig's se esquivava, mal demonstrava cansaço e com poucos gestos, fazia cair o valente guerreiro.

Quando o jovem Guy já não agüentava mais estando estirado na terra branca, o Sacerdote interveio e todos os presentes sussurravam atônitos; Yag, o ferreiro, logo questionou: Como poderia o maior entre os guerreiros se esbandalhar para um velho coxo e cego?

O Sacerdote apenas sorriu ao indagá-los:
- Quem entre vós, mais cedo ou mais tarde, não acaba sendo vencido pela Velhice?


Arquiles Petrus

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Conto: O Garoto

Tivemos uma semana e tanto na redação. Marilia, como sempre, muito nervosa com aqueles seus editoriais malucos sobre economia que eu mal entendia; ficávamos meio desorientados quando ela nos vinha com aquelas loucuras de sobe-desce da inflação. E pior: bem na hora do bendito almoço. Era engraçado como Pedro, o editor de esportes, ironizava:

- Está bem. Mas me diz aí Marilia, você acha melhor quando o negocio sobe ou desce?

E todos riam da malicia do Pedro, inclusive Marilia, que parecia gostar das nossas brincadeiras.

Justamente nesse dia, Pedro nos disse que precisávamos relaxar, que nos achava sérios demais. E ele tinha razão, a loucura de um jornal tinha nos deixado “aloprados” como ele sempre dizia. Todos adoravam aquele seu jeito meninão.

- Nós? Aloprados? – disse eu tentando revidar.

- Sim, senhor editor de textos... aloprados!

Logo depois nos surpreendeu com sua proposta: “que tal um zoológico, no final da tarde?”.

Parecia algo meio maluco, mas depois de muita insistência todos aceitaram. E antes do final de expediente lá estavam todos entrando no gol-branco de Pedro.

Logo depois de uma longa subida que dava acesso ao zoológico, vimos vários garotos em direção ao carro balançando freneticamente suas flanelinhas que mais pareciam pedaços de camisa rasgada. Como era final de tarde, paramos logo perto da bilheteria que ficava debaixo de uma grande mangueira. Tocava alguma música que não consegui distinguir, talvez daquelas antigas canções que se ouvia muito em frente das casas no final da década de oitenta. Parecia que ali o tempo não havia passado. Enquanto Marilia e Pedro compravam nossas entradas, um garoto havia me chamado atenção.

Ele estava sentado no meio-fio, um pouco distante de nós. Deveria ter oito, nove anos no máximo. Vestia uma camiseta avermelhada e uma bermuda jeans. Sentado e triste, abraçava as pernas contra o peito, apoiando o queixo num dos joelhos enquanto parecia chorar.

Algo me fez aproximar.

- Onde estão seus amiguinhos? – perguntei me agachando.

Ele chorava. Senti algo estranho quando ele me fitou. Fiquei tonto. Olhei em minha volta e tudo parecia que havia mudado; estava num parque, naquele mesmo parque que dava entrada ao zoológico; a voz de crianças se misturava ao som que saíam dos alto-falantes pendurados nos postes de madeira. Dezenas de crianças brincavam em gangorras, balanços de ferro ou subiam em casinhas de madeira para descer num escorrego. Eu suava, não entendia o que acontecia quando percebi um grupo de crianças. Sete talvez. Eu estava entre ele. Corriam todos para a bilheteria quando vi que eram amigos de infância, da minha infância; pareciam eufóricos por estar ali, prontos para entrar no zoológico recém-inaugurado, todos se remexiam afobados, menos eu. Pus a mão no bolso e não havia dinheiro, nem se quer uma moeda. Todos zombavam de mim, falavam coisas. Eu chorava, pedia algo, mas eles não me ouviam. Não queriam me ouvir. Quando entraram no zoológico sentei num meio-fio e chorei por saber que papai nunca me levaria pra ver o leão, muito menos me daria moedas. Fiquei ali chorando por quase duas horas esperando meus amiguinhos voltarem.

Dei-me conta que estava agachado na frente de um garoto que abraçava suas pernas chorando. Sentia meu coração apertado, como quem quisesse estar naquele mesmo jeito. Foi nesse momento que percebi o que na verdade os olhos daquele garoto refletiam.

Arquiles Petrus

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Conto: O Presente

Entre algumas montanhas do sul o vento soprava forte, levando todos os flocos para baixo, cobrindo toda a vila; os telhados refletiam o branco vivo da neve e não mais se via a estrada, apenas um caminho de gelo, que em determinados momentos refletiam o piscar das luzes de diferentes cores: azuis, amarelas e vermelhas, dos enfeites colocados há pouco na varanda.

Entre uma janela e outra, via-se uma família em ceia. Crianças corriam transbordando de alegria e fervor. Era o espírito do natal que estava chegando, enquanto o chefe do lar cortava – em pequenos pedaços – o peru recém colocado à mesa.

Outra casa, ao lado, oravam todos de mãos dadas, o pai nosso. Mas um pequeno sorridente abria e fechava os olhos, querendo ver se todos realmente rezavam, sua atenção estava voltada para os presentes.

Mais à frente, todos brincavam à chaminé, onde quatro meias, coloridas, esperavam os presentes do Noel de todos os anos. Os pais ficavam abraçados, olhando aquela criançada brincar com os enfeites da árvore.

Mas ao final da vila, separado dos outros, um casebre quase não aparecia de tão simples que era. Não se via enfeites, brumas ou árvore de natal. Apenas uma luz amarelada que brilhava, pela janela, o chão branco da neve.

De fora via-se tudo. Um pequeno pedaço de madeira era usado como mesa para alguns pratos e talheres. O garoto aguardava. Atento. Ansioso. Talvez esperasse o presente natalino ou um simples afago. O pai ficou triste, quando sua companheira chegou com o cardápio da noite: um pedaço de peito de frango que havia restado do jantar, do dia anterior. Dividiu em três outras partes e distribuiu entre os presentes.

Deram-se as mãos e rezaram por alguns minutos. O pai, ainda tristonho, disse-lhe que havia pouco dinheiro, mas lhe daria uma coisa mais preciosa do que os brinquedos.

Do bolso ele tira um embrulho feito com papel-jornal e lhe entrega com muito amor. O garoto, alvoroçado, começa a desembrulhar o pequeno pacote e ao ver o que tinha dentro seu olhar fica triste e vazio.

O pai, embaraçado, perguntou:

- Não gostou do presente, filho?

O garoto estava decepcionado; não era o que tanto desejava.

- Filho, achamos que você gostaria...

- Não mãe, gostei; gostei de verdade...

A reposta foi sem ânimo.

O jantar chegou ao fim e em pouco tempo já estavam todos em cochilo em seus aposentos. Menos o garoto.

Deitado, olhava para o telhado como quem procura o sono lá em cima; queria mesmo era um tabuleiro de damas... uma bola de futebol... ou até daqueles jogos que se podia brincar de ladrão e detetive, não aquele presente!

Mas algo estranho estava para acontecer.

Deu um sobre-salto quando ouviu o barulho. Curioso como era, procurou assustado da onde vinha aquele estranho som: olhou para todos os lados, de baixo do colchão e das roupas amontoadas pelo chão, mas nada encontrava.

Gelou dos pés a cabeça, quando percebeu que o barulho (que agora era fino demais) vinha de dentro do embrulho que o seu pai havia lhe dado.

Quis se esconder, mas como o seu quarto era pequeno, não havia onde. Ficou encolhido no canto. Até que o som desapareceu, fazendo-lhe abrir os olhos, outrora fechados com muita força de tanto medo.

Como a sua curiosidade era maior do que seu medo, ele foi até o embrulho que estava na outra extremidade do quarto e tirou o presente do pacote.

Era um velho livro de capa dura avermelhada, com o titulo de cor dourada e brilhante. Ficou impressionado, quando percebeu o seu quarto iluminado com o brilho que saia de dentro do maravilhoso presente.

Deitou-se na cama e ficou observando o livro, com aquela vontade de saber o que deve ter ali dentro daquelas dezenas de páginas cheias de palavras, que outrora não despertara interesse algum.

Decidiu então, ler apenas a primeira página. Como já estava debruçado sobre o livro, logo o abriu, ficando abobado com a primeira impressão: uma grande gravura de um cavaleiro em sua armadura em cima do cavalo robusto, negro; o guerreiro segurava um estandarte e parecia estar preparado para a luta.

Virou a página e começou a ler, e quando menos esperava já havia percorrido junto ao cavaleiro em sua trajetória repleta de guerras e aventuras. E antes de amanhecer percebeu que aquilo tudo era melhor que qualquer outra coisa que seu pai poderia lhe presentear.

O garoto nunca mais foi o mesmo. Todas as noites, após a refeição, ele corria pro quarto e viajava pelos diversos mundos da fantasia: conheceu heróis e vilões, pescadores e grandes aventureiros. Nunca mais ele se esqueceu do maravilhoso dia em que seu pai lhe deu asas para voar.

Arquiles Petrus
(Em dezembro de 2006)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Vejo as coisas girarem como num rodopiar de um automóvel. Finas pancadas adentram em meus olhos, desnorteando tudo e qualquer coisa que, outrora, houvera sentido.

Arquiles Petrus

Dia Nacional do Livro


O dia 29 de outubro foi escolhido como Dia Nacional do Livro em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, que ocorreu em 1810. Só a partir de 1808, quando D. João VI fundou a Imprensa Régia, o movimento editorial começou no Brasil. O primeiro livro publicado aqui foi "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga, mas nessa época, a imprensa sofria a censura do Imperador. Só na década de 1930 houve um crescimento editorial, após a fundação da Companhia Editora Nacional pelo escritor Monteiro Lobato, em outubro de 1925.

A Origem do Livro

Os textos impressos mais antigos foram orações budistas feitas no Japão por volta do ano 770. Mas desde o século II, a China já sabia fabricar papel, tinta e imprimir usando mármore entalhado. Foi então, na China, que apareceu o primeiro livro, no ano de 868. Na Idade Média, livros feitos à mão eram produzidos por monges que usavam tinta e bico de pena para copiar os textos religiosos em latim. Um pequeno livro levava meses para ficar pronto, e os monges trabalhavam em um local chamado "Scriptorium".

Quem foi Gutenberg?

O ourives culto e curioso Johannes Gutenberg (1398-1468) nasceu em Mainz, na Alemanha e, é considerado o criador da imprensa em série.Ele criou a prensa tipográfica, onde colocava letras que eram cunhadas em madeira e presas em fôrmas para compor uma página. Essa tecnologia sobreviveu até o século XIX com poucas mudanças. Por volta de 1456, foi publicado o primeiro livro impresso em série: a Bíblia de 42 linhas. Conhecida como "Bíblia de Gutenberg", a obra tinha 642 páginas e 200 exemplares, dos quais existem apenas 48 espalhados pelo mundo hoje em dia. A invenção de Gutenberg marcou a passagem do Mundo Medieval para a Idade Moderna: era de divulgação do conhecimento.

A Importância do Livro

O livro é um meio de comunicação importante no processo de transformação do indivíduo. Ao ler um livro, evoluímos e desenvolvemos a nossa capacidade crítica e criativa.
É importante para as crianças ter o hábito da leitura porque com ela, se aprimora a linguagem e a comunicação com o mundo. O livro atrai a criança pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio e pela emoção das histórias. Comparado a outros meios de comunicação, com o livro é possível escolher entre uma história do passado, do presente ou da fantasia. Além disso, podemos ler o que quisermos, quando, onde e no ritmo que escolhermos.

Fonte: http://www.criancafazarte.com.br/datas/datas_dialivro.htm
Desenho: Ziraldo

sábado, 25 de outubro de 2008

O Cubismo de Pablo Picasso

Se estivesse vivo, o versátil artista faria hoje 127 anos. Autor de milhares de trabalhos, não só de pintura, como também esculturas, peças em cerâmica e poesias. Contudo, eternizado por sua maestria com os pinceis, tornando-se um dos grandes mestres da Arte do Século XX.


Entre suas obras, destaco Guernica (1937) - acima. Tela tragicamente bela, Picasso, produz fragmentos diversos, de momentos atrozes da Guerra Espanhola em 1930.

Vale a pena conhecer mais Picasso. Clique Aqui.
Arquiles Petrus

Conto: Maria Martha

São quase onze horas e ele ainda não ligou. Ele nunca deixa de ligar quando está atrasado, o que será que aconteceu? Vou me deitar na sala, ali perto do telefone talvez ele ligue, aí já atendo logo não é? Nossa como o teto está nojento, preciso passar uma vassoura ali, está cheio de poeira. Espere aí, hoje é sábado. É isso! Esse sacana deve ter ido pra algum bar com aquelazinha. Será? Não. Ele não faria isso comigo. Ou faria? Não, não, acho que não. É... ele deve estar no futebol com os amigos lá naquele campinho perto do apartamento. Será? Mas noite de sábado... é, deve ser isso mesmo. E depois do futebol deve ter ido para algum barzinho com os amigos. Espere aí. Barzinho com amigos? Não gosto de Alberto e aqueles outros amigos dele, são todos uns galinhas e ainda mais, colocando ele pra beber! Minha nossa, eles devem ter ido de lá pra algum daqueles bares de beira de estrada.

Odeio quando ele chega aqui todo sujo com aquele bafo de cachaça. Me chamando de amor, de anjinho. Meu bem pra cá. Meu bem pra lá. Todo doce. Da última vez que ele chegou assim quase que lhe dei uma surra. Estava totalmente bêbado. Hum... as vezes gosto quando ele bebe, na hora do vamo-ver ele sempre dá conta do recado. Mas só quando toma uma. Minha nossa, e como dá conta do recado. Espere aí, da última vez que ele apareceu assim, tava todo-todo com cheiro daqueles perfumes baratos, tipo Gabriele Sabatine da pior qualidade. Argh! Se ele me aparecer com esse cheiro de novo, juro, mas juro mesmo, que dessa vez ele me apanha. Se eu descobrir que aquele filho-da-mãe tá saindo com aquela raputenga, ah, ele me paga. Minha nossa, são quase onze e oito, e ele não chega e nem sequer dá um telefonema. Sim, tudo bem que todo homem é atrapalhado pra se arrumar, mas já faz muito tempo que tô aqui esperando. Aquela piranha deve tá com ele. Ele deve tá me traindo... Mas, será? Quer me trair? Que me traia, mas com ela não, ela não! Minha nossa, estou chorando, não acredito que ele fez isso comigo. Espelho. Preciso de um espelho. Ahhh chorar não! Seja forte mulher, aquele galinha não merece você. Olhe, você é linda. Claro. Você é uma gata. Pronto. Sem chorar. Mas, se aquele galinha estiver com a raputenga... espere, espere, sem chorar, vamos. Pronto. Ahh, ele não faria isso comigo. O telefone. Corre. Tá tocando. Pronto. Alô, Eduardo? Quê? Não, aqui não mora nenhuma Lorena, não. Ah, minha senhora, num tem nenhuma Lorena. Mas. Não. Não sou Lorena. Minha senhora... Mas era só o que me faltava. Será que ele ligou e deu ocupado? Minha nossa. Que droga, tudo culpa daquela maluca procurando a puta da Lorena. E eu sei lá quem é Lorena! Esqueci de tirar as teias do teto! A vassoura, cadê a vassoura? Pronto. Ainda falta ali. Não alcanço. Só se for com aquela cadeira. Ah, ele vai me escutar sim. Isso lá são horas? Pronto. Teto sem poeira. Espelho. Cadê o espelho. Pronto, continuo linda, você é uma gata. Ele sabe que odeio esperar. O DE IO. Ah, ele vai se ver comigo, a vai, a regra agora é um mês sem sexo, quero só ver. Vou deixá-lo maluco, mas nananinanão! Nada de sexo. Tô com fome. Aquele galinha disse que queria jantar comigo para comemorar o nosso aniversário. Mas é muito filho-da-mãe. Deixa-me ver: pão, maionese, picles, mortadela. Isso, isso e isso. Pronto. Onde coloquei a maionese? O telefone. Corre. Minha nossa. Espera, já tô indo. Pronto, alô? Oi mãe... tudo bem mãe. É mãe. Não mãe. Já mãe. Tá mãe. Humrum vou tentar mãe. Tchau mãe... Eu não agüento mais, vou chorar de novo, ele não me ama mais, tenho certeza. Ele tá com outra. Eu sabia, aqueles telefonemas todos, sabia que era outra. E é ela, eu sei, tenho certeza que é ela! Devem tá saindo de algum barzinho, indo pra algum motel. Motel? Ele nunca me levou num motel... ele não me ama... vou ligar. Mãe? Acho que ele tá me traindo mãe... Choro, choro sim, e a senhora queria que eu ficasse como mãe? Não mãe, eu tenho certeza, ele ta me traindo com ela mãe! Ai como dói. Não me peça pra parar de chorar mãe, dói muito. É mãe, com aquelazinha, lembra? Minha nossa, a campainha. Corre, corre, corre. É ele. Espelho. Cadê o espelho. Pano, pano, preciso enxugar isso. Pronto. Linda. Perfeita."
Ela abriu a porta.

"Ai amor, você é fofo sabia? São lindas, adorei. Ai amor, você nunca esquece do aniversário da gente não é? Te amo muito sabia?"

"Alô, mãe? Ele chegou, depois te ligo tá? Mãe, to tão feliz... você acredita que ele parou no caminho pra me comprar rosas? Muito fofinho ele, não é, mãe? Beijos..."

"Amor? Vamos?"