O pior de todos os sentimentos é a inveja. Não que a irresponsabilidade dos atos seja creditada a ela, mas a sua falta de controle conduz as pessoas para que façam coisas absurdas. Num ambiente corporativo, por exemplo, é notória a falta de competência profissional dos que nutrem esse sentimento. Quando não se consegue o reconhecimento por seus próprios méritos, somado a evidência do profissionalismo de um outrem, o resultado são ações desorientadas da inveja. A ascensão de alguém, aos olhos de quem alimenta este sentimento, é no mínimo frustrante. É o ódio a superioridade, corroendo como ferrugem. O subconsciente trata de gerar o conflito: a dor em saber que sua incompetência não vai lhe proporcionar o reconhecimento por ela (ou para ela?) merecido, o resultado é o que a psicologia chama de formação reativa, mecanismo de defesa dos mais “fracos” contra os mais “fortes”, gerando a disputa por poder e status. O tempo perdido nessa batalha egocêntrica poderia ser aproveitado de outras formas, como por exemplo, no foco em suas virtudes e não nas virtudes de um outro. É neste momento que lembramos daquele velho ditado: “Inveja mata” e mata mesmo.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
segunda-feira, 27 de julho de 2009
A moça do caixa
Vai chegar no Brasil (e em outros nove países) um livro que já vendeu mais de 100 mil cópias na França e foi publicado pela primeira vez em junho do ano passado: “Les tribulations d’une cassière”, algo como “A atribulações de uma caixa”. São as histórias de Anna Sam, uma moça de 29 anos que passou oito anos trabalhando meio período como caixa de supermercado para pagar a faculdade (e sustentar-se, depois que se formou).
Todo dia ela presenciava atitudes grosseiras, situações em que se sentia humilhada, comentários indelicados de clientes, daqueles que a gente sente vergonha de ouvir – mesmo quando não é com a gente. Algo como o pai dizendo para o filho estudar, senão ia acabar trabalhando atrás do balcão.
Mas havia também histórias de encontros, de solidariedade e de gentileza. Então, em 2007, ela criou um blog anônimo pra contar suas histórias e seus tormentos: imagine repetir mais de 200 vezes por dia: “Você tem um cartão de fidelidade?” ou “Você pode retirar o seu cartão, por favor?” e, ainda “Obrigada, tenha um bom dia”!
Do blog, ela virou matéria de um jornal local, depois, apareceu em tvs e em rádios francesas, recebeu a proposta de transformar o blog em livro e pediu demissão. Suas histórias devem, ainda, ganhar adaptação para o teatro e o cinema.
Vamos aguardar.
Fonte: BBCBrasil
Foto de divulgação: Editora Stock/Marc Ollivier
Todo dia ela presenciava atitudes grosseiras, situações em que se sentia humilhada, comentários indelicados de clientes, daqueles que a gente sente vergonha de ouvir – mesmo quando não é com a gente. Algo como o pai dizendo para o filho estudar, senão ia acabar trabalhando atrás do balcão.
Mas havia também histórias de encontros, de solidariedade e de gentileza. Então, em 2007, ela criou um blog anônimo pra contar suas histórias e seus tormentos: imagine repetir mais de 200 vezes por dia: “Você tem um cartão de fidelidade?” ou “Você pode retirar o seu cartão, por favor?” e, ainda “Obrigada, tenha um bom dia”!
Do blog, ela virou matéria de um jornal local, depois, apareceu em tvs e em rádios francesas, recebeu a proposta de transformar o blog em livro e pediu demissão. Suas histórias devem, ainda, ganhar adaptação para o teatro e o cinema.
Vamos aguardar.
Fonte: BBCBrasil
Foto de divulgação: Editora Stock/Marc Ollivier
sexta-feira, 24 de julho de 2009
"Subversão do dicionário" por Cristovam Buarque
Mais de uma vez o presidente Lula jantou em minha casa, antes de assumir a Presidência da República. Naquelas ocasiões, gostaria de ter lhe servido pizzas feitas por mim e que ele tivesse me chamado de um bom pizzaiolo. Usando a palavra como substantivo que se refere a quem faz pizza. Mas sou incompetente para a cozinha: não mereço ser chamado de pizzaiolo. Entretanto, não gostei de vê-lo chamando os senadores de pizzaiolos, usando essa palavra como se fosse um adjetivo para indicar político que acoberta malfeitos e engana o povo. Como político, não me senti atingido, porque nunca participei de qualquer CPI; portanto, nunca fiz “pizzas”, não sou “pizzaiolo”. Mas, como educador, senti obrigação de me manifestar diante da infeliz declaração do presidente.
O presidente corrompeu o dicionário, como no passado outros fizeram usando “barbeiro” como sinônimo de mau motorista, “açougueiro” como sinônimo de assassino feroz, “poeta” como sinônimo de lunático. Nenhum barbeiro reclama quando se usa seu substantivo de ofício como adjetivo pejorativo, nem os poetas, nem os açougueiros, porque eles não se sentem atingidos, sabem que a palavra tem significados diferentes.
Os pizzaiolos, entretanto, reclamaram, corretamente, porque foram surpreendidos com esse novo significado para adjetivar o senador pizzaiolo: aquele que acoberta corrupção. Se tivesse partido de outra pessoa, era possível que o significado adicional não prosperasse, mas vindo do presidente da República, o termo vai adquirir esse novo significado. Esta é a gravidade do uso da palavra pelo presidente: porque ele faz opinião.
Por essa razão, foi preciso que alguns senadores protestassem. Não por serem elogiados como fabricantes de pizzas, mas por serem desmoralizados como fabricantes de mentiras. Seria o mesmo que, aproveitando a crise moral do Senado e de muitos senadores, o presidente usasse a palavra senador como adjetivo de pizzaiolo sem competência para fazer boas pizzas ou aqueles que enganassem os clientes fazendo pizzas diferentes da descrição no cardápio.
Como educador e democrata, protestei porque, vindo do presidente da República, a crítica generalizada ao Senado corrompe a opinião pública, especialmente a juventude e as crianças, ao desmoralizar as instituições republicanas. Ao generalizar, ele passou da crítica aos senadores à crítica a uma das casas do Congresso. E a população, os jovens, as crianças passam a respeitar ainda menos o Senado, já desmoralizado pelo comportamento dos próprios senadores. A sociedade diminui seu compromisso com a democracia: o presidente deseducou o povo.
Para o bem ou para o mal, o presidente da República é o principal educador de um país. O que ele diz forma conceitos. Ainda mais quando o presidente tem carisma e popularidade. É uma pena que, ao seu lado, não haja quem o alerte para essa imensa responsabilidade que ele tem. Talvez porque, prisioneiros dos cargos e do respeito que, hoje em dia, beira o endeusamento, as pessoas ao seu redor se acovardam ou perdem o sentido republicano. Criou-se a ideia de que criticar o presidente Lula é um suicídio político. Os intelectuais se calaram, os sindicatos se acomodaram, os políticos se enquadraram.
Por isso é preciso alguém chamar-lhe atenção, mesmo que isso signifique o suicídio político de quem toma a iniciativa. Afinal, se antes se morria lutando pela democracia, muito mais se justifica a derrota política em defesa da República e da educação dos jovens e das crianças.
Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília (UnB) e senador pelo PDT/DF.
O presidente corrompeu o dicionário, como no passado outros fizeram usando “barbeiro” como sinônimo de mau motorista, “açougueiro” como sinônimo de assassino feroz, “poeta” como sinônimo de lunático. Nenhum barbeiro reclama quando se usa seu substantivo de ofício como adjetivo pejorativo, nem os poetas, nem os açougueiros, porque eles não se sentem atingidos, sabem que a palavra tem significados diferentes.
Os pizzaiolos, entretanto, reclamaram, corretamente, porque foram surpreendidos com esse novo significado para adjetivar o senador pizzaiolo: aquele que acoberta corrupção. Se tivesse partido de outra pessoa, era possível que o significado adicional não prosperasse, mas vindo do presidente da República, o termo vai adquirir esse novo significado. Esta é a gravidade do uso da palavra pelo presidente: porque ele faz opinião.
Por essa razão, foi preciso que alguns senadores protestassem. Não por serem elogiados como fabricantes de pizzas, mas por serem desmoralizados como fabricantes de mentiras. Seria o mesmo que, aproveitando a crise moral do Senado e de muitos senadores, o presidente usasse a palavra senador como adjetivo de pizzaiolo sem competência para fazer boas pizzas ou aqueles que enganassem os clientes fazendo pizzas diferentes da descrição no cardápio.
Como educador e democrata, protestei porque, vindo do presidente da República, a crítica generalizada ao Senado corrompe a opinião pública, especialmente a juventude e as crianças, ao desmoralizar as instituições republicanas. Ao generalizar, ele passou da crítica aos senadores à crítica a uma das casas do Congresso. E a população, os jovens, as crianças passam a respeitar ainda menos o Senado, já desmoralizado pelo comportamento dos próprios senadores. A sociedade diminui seu compromisso com a democracia: o presidente deseducou o povo.
Para o bem ou para o mal, o presidente da República é o principal educador de um país. O que ele diz forma conceitos. Ainda mais quando o presidente tem carisma e popularidade. É uma pena que, ao seu lado, não haja quem o alerte para essa imensa responsabilidade que ele tem. Talvez porque, prisioneiros dos cargos e do respeito que, hoje em dia, beira o endeusamento, as pessoas ao seu redor se acovardam ou perdem o sentido republicano. Criou-se a ideia de que criticar o presidente Lula é um suicídio político. Os intelectuais se calaram, os sindicatos se acomodaram, os políticos se enquadraram.
Por isso é preciso alguém chamar-lhe atenção, mesmo que isso signifique o suicídio político de quem toma a iniciativa. Afinal, se antes se morria lutando pela democracia, muito mais se justifica a derrota política em defesa da República e da educação dos jovens e das crianças.
Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília (UnB) e senador pelo PDT/DF.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Medicina de Balcão
Há poucos dias, minha genitora passou por sérios problemas de saúde. E só foi parar num hospital, porque estava nas ultimas sem aguentar a dor numa das pernas. Diagnosticaram uma trombose na veia femoral. Foi internada as pressas, uma correria danada. Alguns dias depois, veio uma notícia que me fez ficar preocupado: a trombose havia gerado uma complicação maior, uma embolia pulmonar. Nesses casos, após conversa com o médico, o que se espera é o pior, afinal minha genitora poderia ir a óbito a qualquer momento em decorrência às complicações que a embolia poderia gerar. Após dez dias de tratamento, recebeu alta. Pulou uma fogueira de costas. Essa hora deve estar de repouso, lá em casa. Mas todo efeito, tem uma causa. Tomava remédios hormonais e de pressão, sem acompanhamento médico. Parei para imaginar quantos milhares de pessoas se automedicam como se tivessem gabarito para fazê-lo. Por certo são médicos que passaram anos estudando para auto-consultar. Pior: alguns fazem de balconistas de farmácia seus médicos particulares. Imagino as milhares de pessoas, que tomam medicamentos sem prescrição alguma, até para simples dores. Ora, uma “simples dor de cabeça” é sinal que há algo errado em seu corpo. Recomenda-se procurar um médico, mas, normalmente o que se faz é algo bem diferente. Procura-se um balconista e toma-se um remédio prescrito por ele, que talvez, não seria o recomendado para resolver o problema. Isso é preocupante, não acha? Dizem que a ANVISA esta instituindo novas regras de funcionamento para as farmácias. Mas, a maioria (se não todas) das farmácias está mais preocupada em vender, do que com o bem estar de seus clientes. Sejamos francos: cliente saudável, não é cliente rentável. Então, evitemos essa Medicina de Balcão e sejamos mais responsáveis com o nosso corpo: em caso de problemas na saúde, que procuremos um médico. Afinal, quando o seu automóvel quebra e precisa de um mecânico, por certo você não procura um cozinheiro. Ou procura?
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