quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Últimas horas

Foto Ilustrativa - http://www.overmundo.com.br/


Nas últimas horas desse ano, algo me fez muito bem. Ontem, enquanto jantava numa pizzaria, uma pequenina se divertia em trocar pequenos saches de maionese comigo. Ela se abria de felicidade quando pegava o seu sache de catchup e atravessava algumas mesas pra me entregá-lo; e eu, claro, retribuía entregando o meu de maionese. Parece besteira isso, né? Não é não, ficamos nisso por minutos. Me sentia muito bem com os lindos olhos de felicidade da pequena Alice (como lhe batizei). Legal como as crianças se divertem com coisas simples. Isso é muito bom. Enquanto pouco tempo atrás estava irritado, ela curtia o seu momento de felicidade, nem aí pro pessoal que ria ao nosso redor, enquanto transbordava alegria pra todos.

Daqui a pouco se inicia um novo ano, deveríamos aproveitar essa renovação para fazer como a pequena Alice, que se entregou num simples momento que proporcionava felicidade. São das coisas simples que deveríamos aproveitar de verdade.

2009 será o ano de mudanças.


Arquiles Petrus

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Conto de Natal: O PRESENTE

Ontem, em comemoração ao Natal o jornal O Mossoroense (do RN) publicou o conto "O PRESENTE". Conto natalino que havia escrito em 2007.

Não leu? Leia aqui ou aqui.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cataclismo

Enquanto assistia aos jornais hoje pela manhã, quando noticiavam sobre graves enchentes lá em Minas, lembrei de um pequeno conto que escrevi aos quatorze anos. O texto é bastante antigo, integrou o livro de contos "Cataclismo", que reuniu meus primeiros escritos, publicado em 2005 pela Editora Baraúna. A ilustração é de João Francisco. Leia abaixo:


Cataclismo

Acordo. O relógio marca seis da manhã. Um cansaço emocional me vem à tona. Uma dor intensa na cabeça me faz ficar um pouco deitado por mais alguns instantes.

Visto-me e vou à sala. Não vejo ninguém. Sinto sede, vou à cozinha e só encontro algumas panelas em cima do fogão. Acho que todos ainda dormem. Lavo meus olhos num banheiro ali perto e volto ao quarto para procurar algum calçado pra sair.

Pela praça da Matriz, sigo em direção à avenida. Lá, encontro dezenas de pessoas tentando limpar as ruas completamente atoladas de lama; tenho que medir os passos para poder conseguir continuar, as casas comerciais estão em caos, portas foram arrombadas pelas águas, dava parar ver dezenas de celulares, sapatos e várias outras mercadorias encharcadas de lama nas encostas. Alguns tentam salvar o que restou... outros roubavam o que havia restado.

Pasmo, porém curioso, acelerei os passos. No final da avenida, escuto alguém falar da Rua da Madeira. Não escutando bem o que aquele senhor havia falado, decidi ir lá e ver o que havia; afinal, estava bem perto dali.

Um bebê chorava enquanto eu caminhava pelo que restava daquela rua. Sinto alguma coisa rodar em meu estômago. Aquilo não parecia ser uma rua, muita lama espalhava-se entre aparelhos de televisão, sofás ou brinquedos; lá, quase não se encontravam mais casas. Aquele conjunto popular estava em ruínas, várias casas haviam caído com a força daquele rio. Sinto alguém me puxar pelo braço!

“Aqui, filho, aqui, veja...”. Falou uma senhora apontando um risco na parede.

Senti como se meu coração tivesse sido colocado em uma máquina de moer carnes, com alguém rodando uma maçaneta, moendo aos poucos. Meu coração estava em migalhas.

“A água chegou aí?” – Perguntei perplexo.

Antes que ela respondesse, eu já estava muito longe dali. Voltei minha atenção à rua, enquanto aquela senhora começava a contar como conseguiu salvar seu animal de estimação. Volto a caminhar, a situação é deplorável; eu me sinto como se estivesse em uma sena de guerra. Diante da esquina, parei. Uma senhora me observava. Seu olhar de sapiência me chamou atenção, sigo em sua direção; ela pega em minhas mãos e, olhando em meus olhos, deixa algumas palavras saírem de sua boca:

“Ainda há quem reclame da vida por tanta besteira...”

Concordei com ela, chorando. Talvez, ela conhecesse minha vida muito mais do que eu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

MEU VELHO AMIGO.


Eu deveria ter escutado meu bom e velho amigo. Sempre me alertava sobre o tempo e o quanto deveria aproveitá-lo ao máximo. Há pouco, percebi que ele sempre teve razão.

Tenho recordado de momentos que estivemos juntos, antes de sua morte. Não eram longos diálogos, nossas conversas se limitavam a pouquíssimos minutos. Mas quando mandava me chamar em sua sala, no trabalho, ficava ansioso pensando em que iria ouvir.

Sua voz serena, cansada de muitos anos, fazia uma ótima relação com o ambiente deixando-o propicio para um bom aprendizado. Seus olhos, quase cobertos por suas pálpebras caídas pelo tempo, me fitavam enquanto comentava sobre suas experiências. Disse-me, certa vez, que eu precisava ter paciência. Conhecia qualquer que seja, com seu olhar clínico, de pai atento. Eu estava ansioso. Alertou-me que o reconhecimento é resultado de muito trabalho e bom aproveitamento do tempo. Falou da época em que seus olhos lhe permitiam ler com mais facilidade, enquanto seus amigos saiam desenfreados em correria de um lado para outro, durante intervalos entre as aulas, ele abria um livro e aproveitava o tempo, o seu precioso tempo para ler mais algumas linhas. Ele sempre teve razão, perdemos tanto tempo com futilidades que esquecemos que estamos neste mundo para se desenvolver e ser útil. E, eu, em minha ignorância juvenil, não havia compreendido naquela época o que ele tanto queria me dizer.

Nesse dia nossa conversa durou pouco mais que cinco minutos; mais tempo que qualquer outra que tivemos. Lamento não tê-lo por aqui, deveria ter ouvido meu bom e velho amigo, talvez não tivesse perdido tanto tempo.

Arquiles Petrus