Tivemos uma semana e tanto na redação. Marilia, como sempre, muito nervosa com aqueles seus editoriais malucos sobre economia que eu mal entendia; ficávamos meio desorientados quando ela nos vinha com aquelas loucuras de sobe-desce da inflação. E pior: bem na hora do bendito almoço. Era engraçado como Pedro, o editor de esportes, ironizava:
- Está bem. Mas me diz aí Marilia, você acha melhor quando o negocio sobe ou desce?
E todos riam da malicia do Pedro, inclusive Marilia, que parecia gostar das nossas brincadeiras.
Justamente nesse dia, Pedro nos disse que precisávamos relaxar, que nos achava sérios demais. E ele tinha razão, a loucura de um jornal tinha nos deixado “aloprados” como ele sempre dizia. Todos adoravam aquele seu jeito meninão.
- Nós? Aloprados? – disse eu tentando revidar.
- Sim, senhor editor de textos... aloprados!
Logo depois nos surpreendeu com sua proposta: “que tal um zoológico, no final da tarde?”.
Parecia algo meio maluco, mas depois de muita insistência todos aceitaram. E antes do final de expediente lá estavam todos entrando no gol-branco de Pedro.
Logo depois de uma longa subida que dava acesso ao zoológico, vimos vários garotos em direção ao carro balançando freneticamente suas flanelinhas que mais pareciam pedaços de camisa rasgada. Como era final de tarde, paramos logo perto da bilheteria que ficava debaixo de uma grande mangueira. Tocava alguma música que não consegui distinguir, talvez daquelas antigas canções que se ouvia muito em frente das casas no final da década de oitenta. Parecia que ali o tempo não havia passado. Enquanto Marilia e Pedro compravam nossas entradas, um garoto havia me chamado atenção.
Ele estava sentado no meio-fio, um pouco distante de nós. Deveria ter oito, nove anos no máximo. Vestia uma camiseta avermelhada e uma bermuda jeans. Sentado e triste, abraçava as pernas contra o peito, apoiando o queixo num dos joelhos enquanto parecia chorar.
Algo me fez aproximar.
- Onde estão seus amiguinhos? – perguntei me agachando.
Ele chorava. Senti algo estranho quando ele me fitou. Fiquei tonto. Olhei em minha volta e tudo parecia que havia mudado; estava num parque, naquele mesmo parque que dava entrada ao zoológico; a voz de crianças se misturava ao som que saíam dos alto-falantes pendurados nos postes de madeira. Dezenas de crianças brincavam em gangorras, balanços de ferro ou subiam em casinhas de madeira para descer num escorrego. Eu suava, não entendia o que acontecia quando percebi um grupo de crianças. Sete talvez. Eu estava entre ele. Corriam todos para a bilheteria quando vi que eram amigos de infância, da minha infância; pareciam eufóricos por estar ali, prontos para entrar no zoológico recém-inaugurado, todos se remexiam afobados, menos eu. Pus a mão no bolso e não havia dinheiro, nem se quer uma moeda. Todos zombavam de mim, falavam coisas. Eu chorava, pedia algo, mas eles não me ouviam. Não queriam me ouvir. Quando entraram no zoológico sentei num meio-fio e chorei por saber que papai nunca me levaria pra ver o leão, muito menos me daria moedas. Fiquei ali chorando por quase duas horas esperando meus amiguinhos voltarem.
Dei-me conta que estava agachado na frente de um garoto que abraçava suas pernas chorando. Sentia meu coração apertado, como quem quisesse estar naquele mesmo jeito. Foi nesse momento que percebi o que na verdade os olhos daquele garoto refletiam.
- Está bem. Mas me diz aí Marilia, você acha melhor quando o negocio sobe ou desce?
E todos riam da malicia do Pedro, inclusive Marilia, que parecia gostar das nossas brincadeiras.
Justamente nesse dia, Pedro nos disse que precisávamos relaxar, que nos achava sérios demais. E ele tinha razão, a loucura de um jornal tinha nos deixado “aloprados” como ele sempre dizia. Todos adoravam aquele seu jeito meninão.
- Nós? Aloprados? – disse eu tentando revidar.
- Sim, senhor editor de textos... aloprados!
Logo depois nos surpreendeu com sua proposta: “que tal um zoológico, no final da tarde?”.
Parecia algo meio maluco, mas depois de muita insistência todos aceitaram. E antes do final de expediente lá estavam todos entrando no gol-branco de Pedro.
Logo depois de uma longa subida que dava acesso ao zoológico, vimos vários garotos em direção ao carro balançando freneticamente suas flanelinhas que mais pareciam pedaços de camisa rasgada. Como era final de tarde, paramos logo perto da bilheteria que ficava debaixo de uma grande mangueira. Tocava alguma música que não consegui distinguir, talvez daquelas antigas canções que se ouvia muito em frente das casas no final da década de oitenta. Parecia que ali o tempo não havia passado. Enquanto Marilia e Pedro compravam nossas entradas, um garoto havia me chamado atenção.
Ele estava sentado no meio-fio, um pouco distante de nós. Deveria ter oito, nove anos no máximo. Vestia uma camiseta avermelhada e uma bermuda jeans. Sentado e triste, abraçava as pernas contra o peito, apoiando o queixo num dos joelhos enquanto parecia chorar.
Algo me fez aproximar.
- Onde estão seus amiguinhos? – perguntei me agachando.
Ele chorava. Senti algo estranho quando ele me fitou. Fiquei tonto. Olhei em minha volta e tudo parecia que havia mudado; estava num parque, naquele mesmo parque que dava entrada ao zoológico; a voz de crianças se misturava ao som que saíam dos alto-falantes pendurados nos postes de madeira. Dezenas de crianças brincavam em gangorras, balanços de ferro ou subiam em casinhas de madeira para descer num escorrego. Eu suava, não entendia o que acontecia quando percebi um grupo de crianças. Sete talvez. Eu estava entre ele. Corriam todos para a bilheteria quando vi que eram amigos de infância, da minha infância; pareciam eufóricos por estar ali, prontos para entrar no zoológico recém-inaugurado, todos se remexiam afobados, menos eu. Pus a mão no bolso e não havia dinheiro, nem se quer uma moeda. Todos zombavam de mim, falavam coisas. Eu chorava, pedia algo, mas eles não me ouviam. Não queriam me ouvir. Quando entraram no zoológico sentei num meio-fio e chorei por saber que papai nunca me levaria pra ver o leão, muito menos me daria moedas. Fiquei ali chorando por quase duas horas esperando meus amiguinhos voltarem.
Dei-me conta que estava agachado na frente de um garoto que abraçava suas pernas chorando. Sentia meu coração apertado, como quem quisesse estar naquele mesmo jeito. Foi nesse momento que percebi o que na verdade os olhos daquele garoto refletiam.
Arquiles Petrus
3 comentários:
Rapaz. Muito bom esse conto. Deu uma pena do garoto.
Você escreve muito bem Arquiles.
Parabéns.
Tadinho do garoto!!
Ficou excelente o conto!
Beijo!
Fiquei me perguntando o que os olhos do garoto refletia, sabia?
Bjitos!
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