Entre algumas montanhas do sul o vento soprava forte, levando todos os flocos para baixo, cobrindo toda a vila; os telhados refletiam o branco vivo da neve e não mais se via a estrada, apenas um caminho de gelo, que em determinados momentos refletiam o piscar das luzes de diferentes cores: azuis, amarelas e vermelhas, dos enfeites colocados há pouco na varanda.
Entre uma janela e outra, via-se uma família em ceia. Crianças corriam transbordando de alegria e fervor. Era o espírito do natal que estava chegando, enquanto o chefe do lar cortava – em pequenos pedaços – o peru recém colocado à mesa.
Outra casa, ao lado, oravam todos de mãos dadas, o pai nosso. Mas um pequeno sorridente abria e fechava os olhos, querendo ver se todos realmente rezavam, sua atenção estava voltada para os presentes.
Mais à frente, todos brincavam à chaminé, onde quatro meias, coloridas, esperavam os presentes do Noel de todos os anos. Os pais ficavam abraçados, olhando aquela criançada brincar com os enfeites da árvore.
Mas ao final da vila, separado dos outros, um casebre quase não aparecia de tão simples que era. Não se via enfeites, brumas ou árvore de natal. Apenas uma luz amarelada que brilhava, pela janela, o chão branco da neve.
De fora via-se tudo. Um pequeno pedaço de madeira era usado como mesa para alguns pratos e talheres. O garoto aguardava. Atento. Ansioso. Talvez esperasse o presente natalino ou um simples afago. O pai ficou triste, quando sua companheira chegou com o cardápio da noite: um pedaço de peito de frango que havia restado do jantar, do dia anterior. Dividiu em três outras partes e distribuiu entre os presentes.
Deram-se as mãos e rezaram por alguns minutos. O pai, ainda tristonho, disse-lhe que havia pouco dinheiro, mas lhe daria uma coisa mais preciosa do que os brinquedos.
Do bolso ele tira um embrulho feito com papel-jornal e lhe entrega com muito amor. O garoto, alvoroçado, começa a desembrulhar o pequeno pacote e ao ver o que tinha dentro seu olhar fica triste e vazio.
O pai, embaraçado, perguntou:
- Não gostou do presente, filho?
O garoto estava decepcionado; não era o que tanto desejava.
- Filho, achamos que você gostaria...
- Não mãe, gostei; gostei de verdade...
A reposta foi sem ânimo.
O jantar chegou ao fim e em pouco tempo já estavam todos em cochilo em seus aposentos. Menos o garoto.
Deitado, olhava para o telhado como quem procura o sono lá em cima; queria mesmo era um tabuleiro de damas... uma bola de futebol... ou até daqueles jogos que se podia brincar de ladrão e detetive, não aquele presente!
Mas algo estranho estava para acontecer.
Deu um sobre-salto quando ouviu o barulho. Curioso como era, procurou assustado da onde vinha aquele estranho som: olhou para todos os lados, de baixo do colchão e das roupas amontoadas pelo chão, mas nada encontrava.
Gelou dos pés a cabeça, quando percebeu que o barulho (que agora era fino demais) vinha de dentro do embrulho que o seu pai havia lhe dado.
Quis se esconder, mas como o seu quarto era pequeno, não havia onde. Ficou encolhido no canto. Até que o som desapareceu, fazendo-lhe abrir os olhos, outrora fechados com muita força de tanto medo.
Como a sua curiosidade era maior do que seu medo, ele foi até o embrulho que estava na outra extremidade do quarto e tirou o presente do pacote.
Era um velho livro de capa dura avermelhada, com o titulo de cor dourada e brilhante. Ficou impressionado, quando percebeu o seu quarto iluminado com o brilho que saia de dentro do maravilhoso presente.
Deitou-se na cama e ficou observando o livro, com aquela vontade de saber o que deve ter ali dentro daquelas dezenas de páginas cheias de palavras, que outrora não despertara interesse algum.
Decidiu então, ler apenas a primeira página. Como já estava debruçado sobre o livro, logo o abriu, ficando abobado com a primeira impressão: uma grande gravura de um cavaleiro em sua armadura em cima do cavalo robusto, negro; o guerreiro segurava um estandarte e parecia estar preparado para a luta.
Virou a página e começou a ler, e quando menos esperava já havia percorrido junto ao cavaleiro em sua trajetória repleta de guerras e aventuras. E antes de amanhecer percebeu que aquilo tudo era melhor que qualquer outra coisa que seu pai poderia lhe presentear.
O garoto nunca mais foi o mesmo. Todas as noites, após a refeição, ele corria pro quarto e viajava pelos diversos mundos da fantasia: conheceu heróis e vilões, pescadores e grandes aventureiros. Nunca mais ele se esqueceu do maravilhoso dia em que seu pai lhe deu asas para voar.
Arquiles Petrus
(Em dezembro de 2006)
Entre uma janela e outra, via-se uma família em ceia. Crianças corriam transbordando de alegria e fervor. Era o espírito do natal que estava chegando, enquanto o chefe do lar cortava – em pequenos pedaços – o peru recém colocado à mesa.
Outra casa, ao lado, oravam todos de mãos dadas, o pai nosso. Mas um pequeno sorridente abria e fechava os olhos, querendo ver se todos realmente rezavam, sua atenção estava voltada para os presentes.
Mais à frente, todos brincavam à chaminé, onde quatro meias, coloridas, esperavam os presentes do Noel de todos os anos. Os pais ficavam abraçados, olhando aquela criançada brincar com os enfeites da árvore.
Mas ao final da vila, separado dos outros, um casebre quase não aparecia de tão simples que era. Não se via enfeites, brumas ou árvore de natal. Apenas uma luz amarelada que brilhava, pela janela, o chão branco da neve.
De fora via-se tudo. Um pequeno pedaço de madeira era usado como mesa para alguns pratos e talheres. O garoto aguardava. Atento. Ansioso. Talvez esperasse o presente natalino ou um simples afago. O pai ficou triste, quando sua companheira chegou com o cardápio da noite: um pedaço de peito de frango que havia restado do jantar, do dia anterior. Dividiu em três outras partes e distribuiu entre os presentes.
Deram-se as mãos e rezaram por alguns minutos. O pai, ainda tristonho, disse-lhe que havia pouco dinheiro, mas lhe daria uma coisa mais preciosa do que os brinquedos.
Do bolso ele tira um embrulho feito com papel-jornal e lhe entrega com muito amor. O garoto, alvoroçado, começa a desembrulhar o pequeno pacote e ao ver o que tinha dentro seu olhar fica triste e vazio.
O pai, embaraçado, perguntou:
- Não gostou do presente, filho?
O garoto estava decepcionado; não era o que tanto desejava.
- Filho, achamos que você gostaria...
- Não mãe, gostei; gostei de verdade...
A reposta foi sem ânimo.
O jantar chegou ao fim e em pouco tempo já estavam todos em cochilo em seus aposentos. Menos o garoto.
Deitado, olhava para o telhado como quem procura o sono lá em cima; queria mesmo era um tabuleiro de damas... uma bola de futebol... ou até daqueles jogos que se podia brincar de ladrão e detetive, não aquele presente!
Mas algo estranho estava para acontecer.
Deu um sobre-salto quando ouviu o barulho. Curioso como era, procurou assustado da onde vinha aquele estranho som: olhou para todos os lados, de baixo do colchão e das roupas amontoadas pelo chão, mas nada encontrava.
Gelou dos pés a cabeça, quando percebeu que o barulho (que agora era fino demais) vinha de dentro do embrulho que o seu pai havia lhe dado.
Quis se esconder, mas como o seu quarto era pequeno, não havia onde. Ficou encolhido no canto. Até que o som desapareceu, fazendo-lhe abrir os olhos, outrora fechados com muita força de tanto medo.
Como a sua curiosidade era maior do que seu medo, ele foi até o embrulho que estava na outra extremidade do quarto e tirou o presente do pacote.
Era um velho livro de capa dura avermelhada, com o titulo de cor dourada e brilhante. Ficou impressionado, quando percebeu o seu quarto iluminado com o brilho que saia de dentro do maravilhoso presente.
Deitou-se na cama e ficou observando o livro, com aquela vontade de saber o que deve ter ali dentro daquelas dezenas de páginas cheias de palavras, que outrora não despertara interesse algum.
Decidiu então, ler apenas a primeira página. Como já estava debruçado sobre o livro, logo o abriu, ficando abobado com a primeira impressão: uma grande gravura de um cavaleiro em sua armadura em cima do cavalo robusto, negro; o guerreiro segurava um estandarte e parecia estar preparado para a luta.
Virou a página e começou a ler, e quando menos esperava já havia percorrido junto ao cavaleiro em sua trajetória repleta de guerras e aventuras. E antes de amanhecer percebeu que aquilo tudo era melhor que qualquer outra coisa que seu pai poderia lhe presentear.
O garoto nunca mais foi o mesmo. Todas as noites, após a refeição, ele corria pro quarto e viajava pelos diversos mundos da fantasia: conheceu heróis e vilões, pescadores e grandes aventureiros. Nunca mais ele se esqueceu do maravilhoso dia em que seu pai lhe deu asas para voar.
Arquiles Petrus
(Em dezembro de 2006)
Um comentário:
Lindo texto...
Gostei do conto. Simplicidade,família, o sentimento de natal, amor verdadeiro, e a paixão pela leitura.
Lembrei-me de algumas coisas, dentre elas alguns professores dizendo que o estudo era o melhor presente que meu pai me deu.
Como também da frase de A. Einstein: "quando a mente se abre para uma nova idéia, nunca mais volta a seu tamanho original"
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