sábado, 25 de outubro de 2008

Conto: Maria Martha

São quase onze horas e ele ainda não ligou. Ele nunca deixa de ligar quando está atrasado, o que será que aconteceu? Vou me deitar na sala, ali perto do telefone talvez ele ligue, aí já atendo logo não é? Nossa como o teto está nojento, preciso passar uma vassoura ali, está cheio de poeira. Espere aí, hoje é sábado. É isso! Esse sacana deve ter ido pra algum bar com aquelazinha. Será? Não. Ele não faria isso comigo. Ou faria? Não, não, acho que não. É... ele deve estar no futebol com os amigos lá naquele campinho perto do apartamento. Será? Mas noite de sábado... é, deve ser isso mesmo. E depois do futebol deve ter ido para algum barzinho com os amigos. Espere aí. Barzinho com amigos? Não gosto de Alberto e aqueles outros amigos dele, são todos uns galinhas e ainda mais, colocando ele pra beber! Minha nossa, eles devem ter ido de lá pra algum daqueles bares de beira de estrada.

Odeio quando ele chega aqui todo sujo com aquele bafo de cachaça. Me chamando de amor, de anjinho. Meu bem pra cá. Meu bem pra lá. Todo doce. Da última vez que ele chegou assim quase que lhe dei uma surra. Estava totalmente bêbado. Hum... as vezes gosto quando ele bebe, na hora do vamo-ver ele sempre dá conta do recado. Mas só quando toma uma. Minha nossa, e como dá conta do recado. Espere aí, da última vez que ele apareceu assim, tava todo-todo com cheiro daqueles perfumes baratos, tipo Gabriele Sabatine da pior qualidade. Argh! Se ele me aparecer com esse cheiro de novo, juro, mas juro mesmo, que dessa vez ele me apanha. Se eu descobrir que aquele filho-da-mãe tá saindo com aquela raputenga, ah, ele me paga. Minha nossa, são quase onze e oito, e ele não chega e nem sequer dá um telefonema. Sim, tudo bem que todo homem é atrapalhado pra se arrumar, mas já faz muito tempo que tô aqui esperando. Aquela piranha deve tá com ele. Ele deve tá me traindo... Mas, será? Quer me trair? Que me traia, mas com ela não, ela não! Minha nossa, estou chorando, não acredito que ele fez isso comigo. Espelho. Preciso de um espelho. Ahhh chorar não! Seja forte mulher, aquele galinha não merece você. Olhe, você é linda. Claro. Você é uma gata. Pronto. Sem chorar. Mas, se aquele galinha estiver com a raputenga... espere, espere, sem chorar, vamos. Pronto. Ahh, ele não faria isso comigo. O telefone. Corre. Tá tocando. Pronto. Alô, Eduardo? Quê? Não, aqui não mora nenhuma Lorena, não. Ah, minha senhora, num tem nenhuma Lorena. Mas. Não. Não sou Lorena. Minha senhora... Mas era só o que me faltava. Será que ele ligou e deu ocupado? Minha nossa. Que droga, tudo culpa daquela maluca procurando a puta da Lorena. E eu sei lá quem é Lorena! Esqueci de tirar as teias do teto! A vassoura, cadê a vassoura? Pronto. Ainda falta ali. Não alcanço. Só se for com aquela cadeira. Ah, ele vai me escutar sim. Isso lá são horas? Pronto. Teto sem poeira. Espelho. Cadê o espelho. Pronto, continuo linda, você é uma gata. Ele sabe que odeio esperar. O DE IO. Ah, ele vai se ver comigo, a vai, a regra agora é um mês sem sexo, quero só ver. Vou deixá-lo maluco, mas nananinanão! Nada de sexo. Tô com fome. Aquele galinha disse que queria jantar comigo para comemorar o nosso aniversário. Mas é muito filho-da-mãe. Deixa-me ver: pão, maionese, picles, mortadela. Isso, isso e isso. Pronto. Onde coloquei a maionese? O telefone. Corre. Minha nossa. Espera, já tô indo. Pronto, alô? Oi mãe... tudo bem mãe. É mãe. Não mãe. Já mãe. Tá mãe. Humrum vou tentar mãe. Tchau mãe... Eu não agüento mais, vou chorar de novo, ele não me ama mais, tenho certeza. Ele tá com outra. Eu sabia, aqueles telefonemas todos, sabia que era outra. E é ela, eu sei, tenho certeza que é ela! Devem tá saindo de algum barzinho, indo pra algum motel. Motel? Ele nunca me levou num motel... ele não me ama... vou ligar. Mãe? Acho que ele tá me traindo mãe... Choro, choro sim, e a senhora queria que eu ficasse como mãe? Não mãe, eu tenho certeza, ele ta me traindo com ela mãe! Ai como dói. Não me peça pra parar de chorar mãe, dói muito. É mãe, com aquelazinha, lembra? Minha nossa, a campainha. Corre, corre, corre. É ele. Espelho. Cadê o espelho. Pano, pano, preciso enxugar isso. Pronto. Linda. Perfeita."
Ela abriu a porta.

"Ai amor, você é fofo sabia? São lindas, adorei. Ai amor, você nunca esquece do aniversário da gente não é? Te amo muito sabia?"

"Alô, mãe? Ele chegou, depois te ligo tá? Mãe, to tão feliz... você acredita que ele parou no caminho pra me comprar rosas? Muito fofinho ele, não é, mãe? Beijos..."

"Amor? Vamos?"

2 comentários:

Anônimo disse...

Maria Karlla Martha Arruda
hehehe

Sulla Mino disse...

Interessante...Bjks,