quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Conto: O Presente

Entre algumas montanhas do sul o vento soprava forte, levando todos os flocos para baixo, cobrindo toda a vila; os telhados refletiam o branco vivo da neve e não mais se via a estrada, apenas um caminho de gelo, que em determinados momentos refletiam o piscar das luzes de diferentes cores: azuis, amarelas e vermelhas, dos enfeites colocados há pouco na varanda.

Entre uma janela e outra, via-se uma família em ceia. Crianças corriam transbordando de alegria e fervor. Era o espírito do natal que estava chegando, enquanto o chefe do lar cortava – em pequenos pedaços – o peru recém colocado à mesa.

Outra casa, ao lado, oravam todos de mãos dadas, o pai nosso. Mas um pequeno sorridente abria e fechava os olhos, querendo ver se todos realmente rezavam, sua atenção estava voltada para os presentes.

Mais à frente, todos brincavam à chaminé, onde quatro meias, coloridas, esperavam os presentes do Noel de todos os anos. Os pais ficavam abraçados, olhando aquela criançada brincar com os enfeites da árvore.

Mas ao final da vila, separado dos outros, um casebre quase não aparecia de tão simples que era. Não se via enfeites, brumas ou árvore de natal. Apenas uma luz amarelada que brilhava, pela janela, o chão branco da neve.

De fora via-se tudo. Um pequeno pedaço de madeira era usado como mesa para alguns pratos e talheres. O garoto aguardava. Atento. Ansioso. Talvez esperasse o presente natalino ou um simples afago. O pai ficou triste, quando sua companheira chegou com o cardápio da noite: um pedaço de peito de frango que havia restado do jantar, do dia anterior. Dividiu em três outras partes e distribuiu entre os presentes.

Deram-se as mãos e rezaram por alguns minutos. O pai, ainda tristonho, disse-lhe que havia pouco dinheiro, mas lhe daria uma coisa mais preciosa do que os brinquedos.

Do bolso ele tira um embrulho feito com papel-jornal e lhe entrega com muito amor. O garoto, alvoroçado, começa a desembrulhar o pequeno pacote e ao ver o que tinha dentro seu olhar fica triste e vazio.

O pai, embaraçado, perguntou:

- Não gostou do presente, filho?

O garoto estava decepcionado; não era o que tanto desejava.

- Filho, achamos que você gostaria...

- Não mãe, gostei; gostei de verdade...

A reposta foi sem ânimo.

O jantar chegou ao fim e em pouco tempo já estavam todos em cochilo em seus aposentos. Menos o garoto.

Deitado, olhava para o telhado como quem procura o sono lá em cima; queria mesmo era um tabuleiro de damas... uma bola de futebol... ou até daqueles jogos que se podia brincar de ladrão e detetive, não aquele presente!

Mas algo estranho estava para acontecer.

Deu um sobre-salto quando ouviu o barulho. Curioso como era, procurou assustado da onde vinha aquele estranho som: olhou para todos os lados, de baixo do colchão e das roupas amontoadas pelo chão, mas nada encontrava.

Gelou dos pés a cabeça, quando percebeu que o barulho (que agora era fino demais) vinha de dentro do embrulho que o seu pai havia lhe dado.

Quis se esconder, mas como o seu quarto era pequeno, não havia onde. Ficou encolhido no canto. Até que o som desapareceu, fazendo-lhe abrir os olhos, outrora fechados com muita força de tanto medo.

Como a sua curiosidade era maior do que seu medo, ele foi até o embrulho que estava na outra extremidade do quarto e tirou o presente do pacote.

Era um velho livro de capa dura avermelhada, com o titulo de cor dourada e brilhante. Ficou impressionado, quando percebeu o seu quarto iluminado com o brilho que saia de dentro do maravilhoso presente.

Deitou-se na cama e ficou observando o livro, com aquela vontade de saber o que deve ter ali dentro daquelas dezenas de páginas cheias de palavras, que outrora não despertara interesse algum.

Decidiu então, ler apenas a primeira página. Como já estava debruçado sobre o livro, logo o abriu, ficando abobado com a primeira impressão: uma grande gravura de um cavaleiro em sua armadura em cima do cavalo robusto, negro; o guerreiro segurava um estandarte e parecia estar preparado para a luta.

Virou a página e começou a ler, e quando menos esperava já havia percorrido junto ao cavaleiro em sua trajetória repleta de guerras e aventuras. E antes de amanhecer percebeu que aquilo tudo era melhor que qualquer outra coisa que seu pai poderia lhe presentear.

O garoto nunca mais foi o mesmo. Todas as noites, após a refeição, ele corria pro quarto e viajava pelos diversos mundos da fantasia: conheceu heróis e vilões, pescadores e grandes aventureiros. Nunca mais ele se esqueceu do maravilhoso dia em que seu pai lhe deu asas para voar.

Arquiles Petrus
(Em dezembro de 2006)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Vejo as coisas girarem como num rodopiar de um automóvel. Finas pancadas adentram em meus olhos, desnorteando tudo e qualquer coisa que, outrora, houvera sentido.

Arquiles Petrus

Dia Nacional do Livro


O dia 29 de outubro foi escolhido como Dia Nacional do Livro em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, que ocorreu em 1810. Só a partir de 1808, quando D. João VI fundou a Imprensa Régia, o movimento editorial começou no Brasil. O primeiro livro publicado aqui foi "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Gonzaga, mas nessa época, a imprensa sofria a censura do Imperador. Só na década de 1930 houve um crescimento editorial, após a fundação da Companhia Editora Nacional pelo escritor Monteiro Lobato, em outubro de 1925.

A Origem do Livro

Os textos impressos mais antigos foram orações budistas feitas no Japão por volta do ano 770. Mas desde o século II, a China já sabia fabricar papel, tinta e imprimir usando mármore entalhado. Foi então, na China, que apareceu o primeiro livro, no ano de 868. Na Idade Média, livros feitos à mão eram produzidos por monges que usavam tinta e bico de pena para copiar os textos religiosos em latim. Um pequeno livro levava meses para ficar pronto, e os monges trabalhavam em um local chamado "Scriptorium".

Quem foi Gutenberg?

O ourives culto e curioso Johannes Gutenberg (1398-1468) nasceu em Mainz, na Alemanha e, é considerado o criador da imprensa em série.Ele criou a prensa tipográfica, onde colocava letras que eram cunhadas em madeira e presas em fôrmas para compor uma página. Essa tecnologia sobreviveu até o século XIX com poucas mudanças. Por volta de 1456, foi publicado o primeiro livro impresso em série: a Bíblia de 42 linhas. Conhecida como "Bíblia de Gutenberg", a obra tinha 642 páginas e 200 exemplares, dos quais existem apenas 48 espalhados pelo mundo hoje em dia. A invenção de Gutenberg marcou a passagem do Mundo Medieval para a Idade Moderna: era de divulgação do conhecimento.

A Importância do Livro

O livro é um meio de comunicação importante no processo de transformação do indivíduo. Ao ler um livro, evoluímos e desenvolvemos a nossa capacidade crítica e criativa.
É importante para as crianças ter o hábito da leitura porque com ela, se aprimora a linguagem e a comunicação com o mundo. O livro atrai a criança pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio e pela emoção das histórias. Comparado a outros meios de comunicação, com o livro é possível escolher entre uma história do passado, do presente ou da fantasia. Além disso, podemos ler o que quisermos, quando, onde e no ritmo que escolhermos.

Fonte: http://www.criancafazarte.com.br/datas/datas_dialivro.htm
Desenho: Ziraldo

sábado, 25 de outubro de 2008

O Cubismo de Pablo Picasso

Se estivesse vivo, o versátil artista faria hoje 127 anos. Autor de milhares de trabalhos, não só de pintura, como também esculturas, peças em cerâmica e poesias. Contudo, eternizado por sua maestria com os pinceis, tornando-se um dos grandes mestres da Arte do Século XX.


Entre suas obras, destaco Guernica (1937) - acima. Tela tragicamente bela, Picasso, produz fragmentos diversos, de momentos atrozes da Guerra Espanhola em 1930.

Vale a pena conhecer mais Picasso. Clique Aqui.
Arquiles Petrus

Conto: Maria Martha

São quase onze horas e ele ainda não ligou. Ele nunca deixa de ligar quando está atrasado, o que será que aconteceu? Vou me deitar na sala, ali perto do telefone talvez ele ligue, aí já atendo logo não é? Nossa como o teto está nojento, preciso passar uma vassoura ali, está cheio de poeira. Espere aí, hoje é sábado. É isso! Esse sacana deve ter ido pra algum bar com aquelazinha. Será? Não. Ele não faria isso comigo. Ou faria? Não, não, acho que não. É... ele deve estar no futebol com os amigos lá naquele campinho perto do apartamento. Será? Mas noite de sábado... é, deve ser isso mesmo. E depois do futebol deve ter ido para algum barzinho com os amigos. Espere aí. Barzinho com amigos? Não gosto de Alberto e aqueles outros amigos dele, são todos uns galinhas e ainda mais, colocando ele pra beber! Minha nossa, eles devem ter ido de lá pra algum daqueles bares de beira de estrada.

Odeio quando ele chega aqui todo sujo com aquele bafo de cachaça. Me chamando de amor, de anjinho. Meu bem pra cá. Meu bem pra lá. Todo doce. Da última vez que ele chegou assim quase que lhe dei uma surra. Estava totalmente bêbado. Hum... as vezes gosto quando ele bebe, na hora do vamo-ver ele sempre dá conta do recado. Mas só quando toma uma. Minha nossa, e como dá conta do recado. Espere aí, da última vez que ele apareceu assim, tava todo-todo com cheiro daqueles perfumes baratos, tipo Gabriele Sabatine da pior qualidade. Argh! Se ele me aparecer com esse cheiro de novo, juro, mas juro mesmo, que dessa vez ele me apanha. Se eu descobrir que aquele filho-da-mãe tá saindo com aquela raputenga, ah, ele me paga. Minha nossa, são quase onze e oito, e ele não chega e nem sequer dá um telefonema. Sim, tudo bem que todo homem é atrapalhado pra se arrumar, mas já faz muito tempo que tô aqui esperando. Aquela piranha deve tá com ele. Ele deve tá me traindo... Mas, será? Quer me trair? Que me traia, mas com ela não, ela não! Minha nossa, estou chorando, não acredito que ele fez isso comigo. Espelho. Preciso de um espelho. Ahhh chorar não! Seja forte mulher, aquele galinha não merece você. Olhe, você é linda. Claro. Você é uma gata. Pronto. Sem chorar. Mas, se aquele galinha estiver com a raputenga... espere, espere, sem chorar, vamos. Pronto. Ahh, ele não faria isso comigo. O telefone. Corre. Tá tocando. Pronto. Alô, Eduardo? Quê? Não, aqui não mora nenhuma Lorena, não. Ah, minha senhora, num tem nenhuma Lorena. Mas. Não. Não sou Lorena. Minha senhora... Mas era só o que me faltava. Será que ele ligou e deu ocupado? Minha nossa. Que droga, tudo culpa daquela maluca procurando a puta da Lorena. E eu sei lá quem é Lorena! Esqueci de tirar as teias do teto! A vassoura, cadê a vassoura? Pronto. Ainda falta ali. Não alcanço. Só se for com aquela cadeira. Ah, ele vai me escutar sim. Isso lá são horas? Pronto. Teto sem poeira. Espelho. Cadê o espelho. Pronto, continuo linda, você é uma gata. Ele sabe que odeio esperar. O DE IO. Ah, ele vai se ver comigo, a vai, a regra agora é um mês sem sexo, quero só ver. Vou deixá-lo maluco, mas nananinanão! Nada de sexo. Tô com fome. Aquele galinha disse que queria jantar comigo para comemorar o nosso aniversário. Mas é muito filho-da-mãe. Deixa-me ver: pão, maionese, picles, mortadela. Isso, isso e isso. Pronto. Onde coloquei a maionese? O telefone. Corre. Minha nossa. Espera, já tô indo. Pronto, alô? Oi mãe... tudo bem mãe. É mãe. Não mãe. Já mãe. Tá mãe. Humrum vou tentar mãe. Tchau mãe... Eu não agüento mais, vou chorar de novo, ele não me ama mais, tenho certeza. Ele tá com outra. Eu sabia, aqueles telefonemas todos, sabia que era outra. E é ela, eu sei, tenho certeza que é ela! Devem tá saindo de algum barzinho, indo pra algum motel. Motel? Ele nunca me levou num motel... ele não me ama... vou ligar. Mãe? Acho que ele tá me traindo mãe... Choro, choro sim, e a senhora queria que eu ficasse como mãe? Não mãe, eu tenho certeza, ele ta me traindo com ela mãe! Ai como dói. Não me peça pra parar de chorar mãe, dói muito. É mãe, com aquelazinha, lembra? Minha nossa, a campainha. Corre, corre, corre. É ele. Espelho. Cadê o espelho. Pano, pano, preciso enxugar isso. Pronto. Linda. Perfeita."
Ela abriu a porta.

"Ai amor, você é fofo sabia? São lindas, adorei. Ai amor, você nunca esquece do aniversário da gente não é? Te amo muito sabia?"

"Alô, mãe? Ele chegou, depois te ligo tá? Mãe, to tão feliz... você acredita que ele parou no caminho pra me comprar rosas? Muito fofinho ele, não é, mãe? Beijos..."

"Amor? Vamos?"